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Opinião
24/03/2005 - 08h02
Os abutres não são os professores
Rui Alves Grilo
 

Com o título de Cuidado com os abutres, o Prof. Corsino A. Mezquita, ex-secretario de Educação de Ubatuba, comenta uma conversa que teve com um técnico em aplicação das verbas da educação e em alguns trechos esse técnico se refere aos professores de uma forma desrespeitosa. Concordo que há professores relapsos e muitos deles quando estão cansados de dar aulas, quando não agüentam mais o massacre de salas lotadas e más condições de trabalho, procuram um outro cargo ou função dentro da carreira do magistério ou da Secretaria de Educação. Abaixo reproduzo alguns trechos:

"Não serão abutres o Sr Prefeito, o Secretário de Finanças, o de Administração e o Chefe do Serviço de Contabilidade. Na maioria das ações, serão responsáveis, junto com você, e te ajudarão a bem administrar os recursos da educação. Mesmo assim, cuidado também com eles."

Se isso fosse verdade não haveria prefeitos cassados por corrupção administrativa. E ladrão faz tudo para não deixar pistas. E como a nossa justiça é lenta, quando se acham as provas, não valem mais porque o prazo prescreveu. Dificilmente um professor em sala de aula vai ser um abutre do tamanho do prefeito e de seus auxiliares mais próximos. Ladrão, quase sempre age em bando, em quadrilha.

"Educação se pratica na escola."

Se isso fosse verdade, ela seria responsável por quase todos os menores infratores pois se diz que a educação está universalizada, isto é, ela atende a quase todos, segundo as estatísticas oficiais.

Esta visão é muito simplista. Hoje mais do que nunca a educação se faz em todos lugares e, educação no sentido de formação está quase inviável de se fazer na escola devido ao número excessivo de alunos. Numa aula de cinqüenta minutos, com cinqüenta alunos presentes, teoricamente, cada um teria direito a apenas um minuto da atenção do professor.

A parte formativa que era feita em casa, hoje está sobre as costas do professor, devido ao fato dos pais terem que trabalhar. A criança e o adolescente necessitam de carinho, afeição, de educadores que os ouçam e lhes mostrem os limites e possibilidades. Quantas  vezes, quando um aluno vem nos mostrar um texto,  ficamos  agoniados por não podermos atendê-lo porque há uma fila de alunos também esperando a nossa atenção ou se estapeando no fundo da sala.

A Universidade de Brasília fez uma pesquisa de cunho nacional, na qual mostra que são justamente os professores mais comprometidos que estão em crise, em depressão, e não vêem mais saída, pois além dos baixos salários, são lhes negadas as condições necessárias para o desempenho digno da profissão. O nome dessa síndrome, burnout, não tem tradução mas equivaleria aproximadamente à expressão "o gás acabou".

Além disso, não existem creches e escolas infantis em número suficiente para atender a clientela. E sabe-se que esses primeiros anos de vida são fundamentais para toda a vida porque é o momento em que a criança desenvolve o maior número de habilidades e conhecimentos. Então, grande parte dos alunos vem para a escola fundamental e média com grandes defasagens. Para se recuperar essas defasagens, a própria Secretaria de Educação, ao implantar o projeto de aceleração e correção do fluxo de aprendizagem, organizou as turmas com um menor número de alunos e divulgou que os resultados foram bastante positivos. Se é sabido que turmas muito numerosas são improdutivas e que depois é necessário gastar mais com recuperação e com os alunos reprovados, pois estes ocupam vagas que seriam destinadas a novos alunos, porque os governos insistem nessa política? Isso não é desvio de verba e mau uso das verbas públicas?

Diz-se que antigamente a escola era boa, mas era uma escola que atendia poucos e, mesmo entre os poucos que atendia, a grande maioria era excluída e não completava a escolaridade. A escola ampliou seu atendimento a quase todos e com os mesmos recursos, às custas do achatamento do salário dos professores. Para sobreviver, os professores são obrigados a dar aulas em vários lugares, em jornadas de até setenta horas semanais. Portanto, o próprio movimento dos professores sempre foi vigilante no sentido de denunciar os desvios de verbas públicas da educação, pois são verbas que também se destinam ao pagamento de seus salários.

A escola vive hoje uma crise muito profunda porque vivemos numa sociedade complexa para a qual a escola antiga não está preparada. Muitas pesquisas apontam a importância da escola, mas também a necessidade de uma reformulação e de maior abertura para a sociedade. Ela é ao mesmo tempo fator de mudança e de conservação. Uma nova escola que atenda os anseios de uma nova sociedade e que contribua para a transformação da sociedade deve ser buscada na discussão e debate democrático com a própria sociedade, pois é dela que vem os recursos financeiros.

Em outro trecho, esse "técnico" faz as seguintes advertências:

"Organizações não governamentais ambientalistas ou assistencialistas virão solicitar patrocínio, professores, prédios etc. Não atenda. Os professores são contratados ou nomeados para estarem na sala de aula ou nas atividades diretamente ligadas à Secretaria. Mande os professores para a sala de aula. Afaste os outros. São abutres.

Não devem faltar em Ubatuba aqueles professores que não querem dar aula, mas que desejam salvar o mundo com programas especiais (projetos) de educação ambiental para terceira idade, comunidades rurais, crianças em situação de rua etc."

Pesquisas comprovam que as escolas que tem tido um melhor desempenho são justamente aquelas que se abrem para projetos em parceria com outras instituições da sociedade civil, especialmente no campo da educação ambiental, da cidadania, artes e esportes e que não se limitam a atividades no interior das escolas.


Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor em Ubatuba (SP).
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