Tornaram-se críticas as relações entre o governo, a sociedade e a Polícia Militar do Distrito Federal. Descontentes com os baixos salários – enquanto um PM ganha R$ 5.161,83, um investigador recebe R$ 8.698,78 e um carcereiro R$ 8 mil mensais – com dificuldades funcionais, os militares adotaram a “Operação Tartaruga”. Pararam de dirigir em alta velocidade, de forçar a passagem no trânsito, avançar sinal vermelho e correr riscos de capotar a viatura ao atender ocorrências de perseguição ou emergência. Não vão mais aos locais de acidentes de trânsito e de crimes, pois colher detalhes para os processos dessas ocorrências, no seu entendimento, é missão dos agentes do Detran e da Polícia Civil, que ganham salários justos, mas até duas ou três vezes maiores que os dos militares. Também deixaram de fiscalizar veículos, a não ser aqueles com suspeita concreta de irregularidade ou crime, e pararam de utilizar o próprio celular para apurar informações sobre as ocorrências. Essa é a chamada “operação padrão”, que em Brasília ganhou outro nome, um recurso já empregado pelos controladores de vôo, para chamar atenção aos seus problemas e reivindicações. Cumprem apenas o estrito dever legal e não caem na greve, que é vedada ao setor. O resultado é o aumento da criminalidade, hoje noticiado pela imprensa e pelo próprio governo, que ameaça punir os PMs, mas dificilmente encontrará um meio de fazê-lo, pois não há ilegalidade no procedimento. Pelo contrário, trabalhando como tradicionalmente, com bloqueios, abordagens e perseguições, atua sobre uma fina linha imaginária entre o legal e o ilegal, podendo, no calor da ação, extrapolar ou atingir terceiros. Dessa forma, resolve o problema da segurança pública, mas enfrenta dificuldades legais e funcionais, podendo ser processado, apenado, preso e até demitido da corporação. Fica-lhe a injusta pecha de criminoso quando, em realidade, apenas cumpre seu dever de proteger a população dos reais criminosos. O problema de Brasília é sério e lança um alerta para todo o país. O governador teria prometido melhorias aos PMs e não cumprido. Sem fazer bloqueios, abordagens e ações que a experiência e o tirocínio de cada profissional indicam para o momento, a polícia torna-se burocrática. Não gera mais reclamações de pessoas que se sentem incomodadas com a abordagem mas, em contrapartida, os bandidos ficam livres para circular e cometer seus crimes sem, também, serem incomodados. Há que se fazer uma escolha entre o incomodo da abordagem a suspeitos, que inclui também os cidadãos de bem, e a não-abordagem que não incomoda ninguém, nem os criminosos. Os governantes e a sociedade precisam definir o que pretendem de suas polícias e assumirem a responsabilidade pela opção. A polícia é uma força armada e treinada para atuar contra o crime. Quando não é prestigiada, reconhecida e motivada, decide pela “operação padrão”, seus integrantes se protegem, mas a segurança pública perece. Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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