O cinegrafista Santiago Andrade, infelizmente, é o mártir que faltava para as pseudo autoridades começarem a enfrentar – de verdade – os black blocs. Liberada e até pressionada a trabalhar, a polícia encontrou e prendeu os dois autores do disparo do artefato que atingiu a cabeça da vítima. Oxalá isso não tenha ocorrido exclusivamente por se tratar de jornalista pertencente a um veículo nacional de comunicação. Lamentavelmente, vivemos num país onde tudo é empurrado com a barriga e só quando ocorre uma morte e o conseqüente escândalo, é que vai se tomar providências. Os ditos black blocs deveriam ter sido contidos no seu nascedouro. Inclusive, a agravante é que os dois acusados da morte de Santiago, já possuíam passagens pela polícia por desordens em manifestações, e nenhuma providência foi tomada. A fraqueza dos governos que, para se parecerem democráticos, negligenciam suas obrigações de prover a segurança pública, faz crescer o mal, deixando em pânico a população. O vácuo de autoridade torna-se habitat dos desordeiros, dos anarquistas, dos politiqueiros e dos parias sociais, dando ao povo – grande vítima desse processo – a impressão de que todos estes “trabalham” para alguém e buscam algum resultado econômico, político ou eleitoral. O prende-e-solta tornou-se rotina escandalosa, que leva ao descrédito as autoridades e as próprias instituições e, de quebra, potencializa a desordem. Os governantes que, generosa e democraticamente, recepcionaram as manifestações como direito do povo, não poderiam ter se esquecido do seu dever de prover a segurança dos manifestantes. Ao primeiro sinal de infiltração de oportunistas degeneradores, deveriam tê-los contido e, didaticamente, os submetidos aos rigores da lei. Mas, da forma que conduziram a questão, parece até que se interessavam pela desordem, como meio de enfraquecimento das reivindicações e que pouco se importavam com os enormes prejuízos ao patrimônio público e particular. Se os manifestantes já “fichados” pela polícia fossem, pelo menos, impedidos de participar de outras manifestações – da mesma forma que se faz com os membros de torcidas que promovem brigas nos estádios – Santiago Andrade, com certeza, ainda estaria vivo. Agora, até em respeito ao seu sacrifício, há que se criar procedimentos de segurança e restaurar, pelo menos minimamente, o princípio de autoridade... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
|