Um colega com quem tenho muita afinidade de pensamento, num dia desses, chegou à minha sala de trabalho e, sorrindo, me disse: – Ouça o que acabei de ler. Estou certo de que vai gostar. E sem esperar a minha aquiescência leu em voz alta: “Acho a televisão muito educativa. Todas as vezes que alguém liga o aparelho, vou para outra sala e leio um livro.” Na medida em que eu maturava para a vida fui deixando de perder tempo com futilidades, razão pela qual me recusei, a partir de certo dia, a não jogar meu tempo fora com tantos disparates na TV. Não conhecia ainda o que pensava Groucho Marx a respeito, mas aproveitava meus momentos livres para estudar História, Filosofia, Pedagogia e, por que não a Religião? Com efeito, foi muita leitura. E quem afirma que a boa leitura não traz felicidade erra redondamente. Tudo o que assimilei me foi e continua sendo de grande utilidade ao longo da vida. À época, as famílias ainda se reuniam para conversar, sobretudo em cidades do interior desse imenso Brasil. Nos dias estivos, ao entardecer, era comum a família levar cadeiras para os passeios das casas e aí, enquanto as crianças corriam de um lado para o outro, conversavam despreocupadas até o anoitecer. Vivi isso intensamente. Ali, onde se falava no mais das vezes de pessoas, fatos, e, até ideias, histórias maravilhosas, Sagradas Escrituras e vida de santos. O certo é que os mais velhos ensinavam aos mais novos a observar a realidade, além de dar muita educação informal. Hoje, boa parte daqueles que nos sucederam são, segundo dito muito expressivo, “cheios de nada e vazios de tudo”. Culpa de quem? Segundo alguns, da crise familiar, o que não deixa de ser verdade. Mas costumo me perguntar: – Quem são os responsáveis pela formação das famílias? Aí vêm as omissões... e quantas! Deixar os filhos junto à “babá eletrônica”, por exemplo, parece ser muito mais cômodo do que pesquisar e escolher uma historinha para contar aos filhos à noite. Ou mesmo empregar um tempinho para uma conversa amena com eles, principalmente em horário de novelas... De quando em quando ouço de pessoas, no mais das vezes bastante superficiais: “A TV também tem coisas boas”, ao que costumo responder com uma consideração que todos ouvimos ao longo da vida: “Quem tomaria um copo de água limpa com uma gota de veneno?” Vou mais longe: “Quem tomaria um copo de veneno com uma gota de água limpa?” Circula pela internet os “mandamentos” de como formar delinquentes. Um deles reza: – Deixe seu filho ler (eu diria ver) o que quiser, mas desinfete bem seus talheres e seus utensílios para que ele não adoeça... Consertar humanamente tal situação é um desafio antigo de psicólogos, psiquiatras, terapias alternativas... mas as coisas só vêm piorando a cada dia. E não é apenas aqui no Brasil! Será que através da classe política ao conceber boas leis, projetos sociais e muita propaganda? E o clero? Não nos iludamos. A solução só poderá advir de uma intervenção misericordiosa da Providência Divina. Nota do Editor: Sergio Bertoli é jornalista e colaborador da Agência Boa Imprensa – (ABIM).
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