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Crônicas
18/02/2014 - 15h02
Qualquer um ficaria chateado
Henrique Fendrich
 

Há coisas mais espantosas na vida do maestro João Carlos Martins do que o fato de torcer para a Portuguesa. Eu o encontrei no Teatro Nacional regendo um concerto em homenagem a Beethoven. Falando assim até parece que eu tenho alguma intimidade com ele. Mas a verdade é que até aquela noite eu ainda não conhecia o maestro e por isso mesmo foi uma grande novidade para mim quando ele contou a sua história de vida – possivelmente pela milésima vez.

Vocês sabem: ainda jovem, ele tinha uma carreira brilhante como pianista. Mas um dia caiu jogando bola, arrebentou um nervo e teve a mão direita paralisada. Só conseguiu voltar a tocar piano com a ajuda dos melhores médicos, mas já não tinha o mesmo brilho. Ele mesmo reconheceu isso, tanto que desistiu de tocar. Quando resolver voltar, teve uma grave crise de LER. Demorou anos até recuperar o movimento normal das mãos. Mas recuperou, e com isso conseguiu retomar a carreira. Até que um dia levou uma pancada na cabeça durante um assalto e teve o lado direito do corpo paralisado. Os movimentos voltaram, mas ele precisou cortar um nervo da mão direita, que ficou então inutilizada. Foi quando deu um jeito de aprender a tocar só com a mão esquerda mesmo. Até o dia em que descobriu um tumor nela e também não pôde mais utilizá-la. Só então é que partiu para a regência, mesmo sem poder segurar a batuta ou virar as páginas com as partituras.

Essa história me lembrou muito aquela do Joseph Climber (“qualquer um ficaria chateado, abatido, desmotivado, mas não Joseph Climber”). Fazia até sentido que estivesse regendo um concerto em homenagem a Beethoven, outro sujeito totalmente surdo às circunstâncias desfavoráveis. O maestro regeu então a orquestra com as notas todas memorizadas. E eu vi muito bem quando ele simplesmente tocou ao piano – ainda não entendi como. Foi quando eu senti uma vergonha muito grande, porque eu já desisti facilmente de muita coisa importante. E pior: continuo desistindo.

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