Ao mesmo tempo que pipocam os inquéritos e processos contra agentes e servidores públicos acusados de corrupção, o Brasil real está apreensivo com a possível falta de eletricidade, é vítima da violência, experimenta baixíssimas taxas de crescimento econômico e agora começa a ver a indústria automobilística – uma das mais protegidas pelas políticas econômicas dos últimos anos – reduzir a produção e suspender temporariamente os contratos de centenas, talvez milhares, de trabalhadores. É de se perguntar se, finalmente, a “marolinha” prometida pelo governo na crise de 98 não estaria chegando na forma de um “tsunami”, idêntico àquela que anos atrás varreu as partes mais desenvolvidas do planeta. Se realmente estiver para entrar a tormenta maior, de nada terá servido a política de desoneração e renúncia fiscal que incentivou o povo brasileiro a adquirir mais automóveis, móveis e eletrodomésticos com o IPI reduzido e até nulo. Teremos chegado ao fundo do poço, pois o mercado encontra-se hoje endividado e sem condições de novas compras – mesmo que desoneradas – e a crise fatalmente se instalará. Se vier mesmo, será num péssimo momento, pois neste ano o país tem a responsabilidade de realizar a Copa do Mundo e fará a principal das eleições, onde renovará os mandatos de presidente da República, governador dos estados e parlamentares federais e estaduais. O quadro se agrava na medida em que, com o instituto da reeleição para cargos executivos, os governantes terão, além de governar e administrar a crise, fazer a própria campanha eleitoral. Infelizmente, temos vivido anos em que a prioridade é a fachada e o ufanismo político-administrativo que miram, sempre, as próximas eleições. Governantes e líderes políticos vendem ao povo uma imagem de país próspero e em franco desenvolvimento, que não condiz aos números da economia. Negligenciam nas medidas concretas para o enfrentamento dos problemas a ponto de parecer, nos seus pronunciamentos, estarem falando de outro país. É preciso voltar à realidade e investir seriamente em reformas, políticas, econômicas e sociais. Há que garantir ao povo a oportunidade de trabalho, a educação, a saúde e a segurança pública. Não podemos continuar como uma grande, desorganizada e socialmente injusta sociedade, por mais democrática que ela possa parecer. Só democracia não basta... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
|