Os ativistas do MST que marcharam pela Praça dos Três Poderes e tentaram invadir o Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto, no último dia 12, foram a Brasília com patrocínio da Caixa Econômica Federal e do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social. Os dois organismos federais destinaram, sem licitação, R$ 550 mil ao evento, que os reuniu sob o pretexto de apresentar os produtos agrícolas dos assentamentos e teve, no seu decorrer, a decisão de ir em marcha à sede do governo entregar à presidente Dilma Roussef uma carta cobrando os compromissos não cumpridos em relação à reforma agrária. Os dirigentes dos órgãos federais dizem ter patrocinado apenas um evento cultural e negam responsabilidade ou conhecimento sobre sua evolução para o confronto. Mas, a bem da verdade, reforma agrária, assentamentos e coisas afins não devem fazer parte do mix de atividades tanto da Caixa quanto do BNDES. Os governos e a sociedade deveriam ser mais ciosos na destinação do dinheiro público. Órgãos de governo têm de cumprir suas finalidades específicas e nada mais. Seus recursos têm de ser exclusivos para as respectivas áreas de atuação. No dia em que se impedir o emprego de dinheiro público fora das atividades-fim dos órgãos, ficará mais difícil o desvirtuamento de sua finalidade. Desse processo deveriam fazer parte, também, a criação e manutenção de mecanismos de controle rigoroso sobre as ONGs (Organizações não-Governamentais), para garantir que desenvolvam fielmente as atividades para as quais foram contratadas. Feito isso, não sobrará recursos para campanhas eleitorais, ativismo político e sistemas de pressão social. Sem ter quem os sustente, os ativistas profissionais deixarão de insuflar a turba para invadir imóveis e repartições, bloquear vias públicas, vandalizar e fabricar o caos. Os movimentos sociais são bem-vindos e podem contribuir para o avanço da sociedade. Mas precisam ter vida própria. Não podem, jamais, ser sustentados direta ou indiretamente pelo dinheiro público. Ao empunhar uma bandeira, o ativista deve ser consciente de sua luta e não fazê-lo profissionalmente, nem com outras finalidades. Seria muito triste aos cidadãos saber que os conflitos ultimamente presenciados, com tanto transtorno, sofrimento e até mortes, são custeadas pelo dinheiro dos impostos que todos nós pagamos... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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