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COLUNISTA
Marcelo Sguassábia
03/03/2014 - 11h00
Polonaise
 
 

– Este ré bemol realmente está um atentado ao ouvido. Faz tempo que está desafinado desse jeito?

– Mais de ano. Vou deixando, evitando esbarrar nessa tecla quando toco, pra não acabar com a música.
– O problema é que agora não segura mais afinação. Vou ter que trocar a cravelha. Se o senhor me chamasse assim que notou que estava desafinado... Que curioso, nunca atendi cliente no carnaval. Ninguém chama pra afinar piano nesses dias. Já tinha até planejado uma semaninha em Teresópolis, com a família, quando o senhor ligou. Piano em casa já é raridade hoje em dia. Gente querendo tocar no carnaval, então... Pleyel, esse piano aqui é uma lenda.
– Tem quase vinte anos comigo. Estava encostado no porão de um convento. Uma das madres tocava de vez em quando. Ela morreu e o instrumento ficou parado, até que deu cupim e resolveram vender.
– Personnalisé pour Frédéric Chopin!(*)
– Que foi que você disse?
– Aqui, escrito em grafite num selo, perto do pedal.
– Quer dizer o que isso aí, moço?
– Nada.
– Como assim, nada?
– Este piano não vale nada. As cravelhas estão todas estragadas, a madeira está que é só cupim, o marfim das teclas já vai começar a soltar...
– Do jeito que o senhor fala, não sobra muita coisa.
– Posso levar embora, mas pago pouco. A despesa que eu vou ter com o transporte é maior do que o preço de mercado dele.
– Mas é um Pleyel! Como o senhor mesmo disse, uma lenda...
– Um Pleyel destruído pelo tempo. A fábrica, inclusive, fechou as portas em novembro de 2013. Este aqui é apenas mais um, dentre duzentos e cinquenta mil produzidos na França, em mais de duzentos anos.
– E aquele negócio escrito no selo? O senhor arregalou um olho quando leu...
– Imagina, é só nome do funcionário que fez o instrumento. Um tal de Frederico. Do jeito que esse piano acabou ficando, devia ser um aprendiz na época.
– Ah.
– E aí? Vamos desocupar espaço?
– Oito mil e quinhentos reais.
– Pago no máximo três mil e setecentos.
– Tá bom, pode levar.
(Leva mesmo essa porcaria, seu trouxa. Se fosse um perito mesmo, teria percebido que o selo é falso, que foi envelhecido com betume e que o lápis que escreveu o nome de Chopin é coreano).

(*) Sob encomenda para Frédéric Chopin


Nota do Editor: Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário em Campinas (SP), beatlemaníaco empedernido e adora livros e filmes que tratem sobre viagens no tempo. É colaborador do jornal O Municipio, de São João da Boa Vista, e tem coluna em diversas revistas eletrônicas.
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