1. Todos acreditam serem detentores não de uma opinião, mas de muitas. E essas não seriam apenas um amontoado de palavras minguadas, no entender de seus possuidores, mas sim, fortes expressões advindas da alma dum colosso que livremente opina sobre tudo e sobre todos sem, ao menos, dar-se ao trabalho de conhecer alguma coisa, sem conhecer-se e, inevitavelmente, sem nem mesmo ter ponderado sobre as palavras que foram emitidas por seus lábios. Sobre o vício do opinar, Machado de Assis, numa das luminosas e cáusticas páginas de sua obra “Papéis Avulsos”, diz-nos: “Se uma coisa pode existir na opinião, sem existir na realidade, e existir na realidade sem existir na opinião, a conclusão é que das duas existências paralelas a única necessária é a da opinião, não a da realidade, que é apenas conveniente”. Não é à toa que nosso país a cada dia que passa mais e mais se assemelha com um manicômio dirigido por um bando de loucos mal disfarçados de lúcidos doutos. 2. Sinto-me derrotado. Uma batalha seguida da outra. Uma queda sobrepondo-se à outra. E vejo diante de mim a guerra continuar. Ouço, ao longe, o anúncio duma multitude de pelejas para serem lutadas. Pelejas essas inglórias. Todas. Às vezes dá vontade de entregar as armas e hastear uma bandeira branca. Admito que em muitas ocasiões invada meu ser um desejo incontrolável de render-me. Confesso que quando tal cobardia viceja meu íntimo, no mesmo instante, incendeia em meu coração uma força irascível ciosa por invadir as vistas de meus antípodas com a infantaria de verdades que eles tanto desejam silenciar em minha alma. Infantaria que jamais irão calar em meu tinteiro. A peleja continua, porque um homem pode até ser derrotado, mas jamais destruído. Jamais.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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