Vivemos, por décadas, a ilusão de um país onde tudo corria às mil maravilhas, embora esse não fosse o sentimento particular de cada cidadão. Desde o chamado milagre econômico vendia-se ao povo a idéia de que o país caminhava para a prosperidade. Depois vieram o susto do desemprego, a hiperinflação, os planos econômicos fracassados e finalmente, o Real, transformado em panacéia. Apesar das dificuldades de cada momento, o brasileiro sempre foi bombardeado pelo otimismo (muitas vezes exagerado) da propaganda oficial e político-situacionista. Agora, depois das comemorações da auto-suficiência petrolífera, da ascensão do país à condição de sexta economia do mundo e de outras verdades e meias-verdades, estamos na véspera da Copa do Mundo, ameaçados pela volta da inflação, escassez de água potável e eletricidade e com notícias desalentadoras sobre o comércio exterior e a produção petrolífera. E, de quebra, ainda resta-nos a dúvida quanto à atividade econômica sustentada pelas desonerações e renúncia fiscal (do IPI) não ter passado de uma bolha prestes a explodir. A observação do panorama nacional é preocupante. Os diferentes setores da economia são analisados isoladamente e produzem maravilhosas manchetes que sustentam os apetites continuístas daqueles que estão no poder. Por outro lado, observações feitas pelos oposicionistas pintam um país caótico. E o povo, destinatário de toda essa massa de informação, como é que fica? Fica sem saber o que pensar e para que lado pender. Ao mesmo tempo em que as pesquisas apresentam uma tendência, as manifestações (que chegam à violência) apontam noutro rumo. Não é difícil concluir que o nosso país não deve ser aquele mar de rosas dito pelos políticos situacionistas, e nem o inferno denunciado pelos oposicionistas. Somos, enfim, um país em busca de sua própria identidade. O empresariado que, a duras penas e muitas vezes enfrentando políticas débeis, construiu a nossa economia e a mantém em funcionamento, sabe disso. Infelizmente vivemos a reboque dos interesses eleitoreiros e não lutamos pelas verdadeiras e necessárias reformas. As entidades da sociedade civil, universidades e demais centros do saber nacional prestariam um grande serviço à Nação se, acima de ideologias e principalmente do interesse eleitoral, partissem em busca do Brasil real que, com certeza, é muito diferente daquele quadro que tanto os otimistas quanto os pessimistas fazem questão de pintar para dele tirar proveito nas próximas eleições. Reage, Brasil verdadeiro!... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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