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SEÇÃO
Crônicas
12/03/2014 - 12h10
Resultado, não objetivo
Pedro J. Bondaczuk
 

Os conceitos de “sucesso”, em voga na nossa sociedade, parecem-me bastante vagos e, sobretudo, subjetivos. Há um equívoco básico nessa conceituação: consideramo-lo um “objetivo” a alcançar, quando deveria se tratar de um “resultado” de nossas ações e aptidões.

Tentarei explicar-me melhor. Tomemos como exemplo um clube de futebol profissional de primeira linha, da Série A do Campeonato Brasileiro. Pelo menos em tese, todos eles almejam, ao iniciarem a competição, o mesmo fim: serem campeões.

Alguns, no entanto, agem efetivamente nesse sentido, mediante administração eficiente (sobretudo a das finanças). Revelam competência na contratação de um treinador reconhecidamente de “ponta”. Formam um plantel com os melhores atletas para cada posição e com substitutos à altura para eventualidades. E proporcionam infraestrutura ideal, como excelentes centros de treinamento, departamento médico reconhecidamente eficaz, equipamentos de fisioterapia de última geração etc. para o grupo trabalhar.

Enquanto isso, outros tantos clubes apostam em aspectos meramente subjetivos, como tradição, tamanho da torcida, prestígio, história etc. Descuidam-se, no entanto, de aspectos práticos, ao contrário da atitude dos reais candidatos ao título.

Têm, por exemplo, um presidente centralizador, que confunde o patrimônio coletivo com um empreendimento seu, particular. Além disso, para complicar, esse dirigente toma decisões irracionais, movidas exclusivamente pela paixão e não raro desperdiça fortunas nisso.

Contrata mal, tanto o treinador quanto jogadores. Ao primeiro insucesso, demite o técnico e não raro repete essa atitude por outras duas, três ou até mais vezes ao longo da competição. Em contrapartida, não proporciona a menor estrutura de trabalho para a equipe e, de quebra, atrasa salários, ou paga somente o das “estrelas” do plantel, dividindo o grupo, que não se sente comprometido com o objetivo a alcançar.

Qual desses clubes tem maiores chances de sucesso, o que se organizou, planejou e se preparou meticulosamente para a disputa ou o que confiou, apenas, no acaso ou na tradição? A menos que ocorra uma dessas casualidades tão características de qualquer competição (o que é cada vez mais raro) claro que o campeão, com altíssima probabilidade, será quem agiu para que isso ocorresse. Ambos tinham o mesmíssimo objetivo quando o campeonato começou. Mas o sucesso não ocorre por acaso, pelo simples fato de ser meta perseguida. É, sobretudo, resultado.

Isso vale não somente para o esporte (no nosso exemplo, o futebol profissional). Em todas as atividades também acontece a mesma coisa, com maior ou menor intensidade. Se eu escrever um livro pensando apenas no sucesso (e ninguém se propõe a escrever de olho no fracasso), mas não tiver talento, não me dedicar com afinco ao texto de sorte a torná-lo próximo da perfeição, o resultado será um rotundo fracasso, tendo, de lambuja, uma imensa frustração. Só serei bem-sucedido (e mesmo assim o êxito nunca é garantido) se agir com eficiência nesse sentido. Caso contrário...

Tomemos outro caso, o de um relacionamento afetivo, por exemplo. Podemos nos interessar por determinada mulher por dois motivos básicos (embora isso possa ocorrer por “n” outras razões): irresistível atração sexual ou isto e mais a detecção de inúmeras virtudes nela, que a qualifiquem para ser nossa parceira por toda a vida e a mãe dos nossos filhos.

O “sucesso”, no primeiro caso, será a satisfação da nossa libido. Mas isso apenas será possível se ambos tivermos compatibilidade física e nos desejarmos com a mesma intensidade, o que raramente acontece. Caso contrário... poderá redundar num traumático (para ambos) fracasso. Está aí. Mais uma vez, o sucesso se mostrará resultado, não mero objetivo.

Aprofundemos nosso exemplo. Se a nossa intenção for um relacionamento mais profundo e duradouro com determinada mulher que nos atraia, “até que a morte nos separe”, não bastarão sua anuência e o conseqüente casamento. Esse vínculo (como qualquer outro) pode ser desfeito. Teremos que agir, e a vida toda, por anos e mais anos, no sentido de preservar essa relação e ampliá-la ao máximo.

Como? Sendo responsáveis, pacientes, compreensivos, cúmplices etc. Caso contrário, em três tempos, à primeira rusga mais séria, o vínculo afetivo que nos parecia indissolúvel se dissolverá, fazendo com que cada qual siga seu próprio caminho, o que é, convenhamos, para lá de comum.

O sucesso, portanto, não será a aproximação de ambos, o namoro, o casamento, a relação sexual e a geração de filhos. Será a durabilidade da relação, ou seja, será conseqüência da mútua paciência, responsabilidade, compreensão, cumplicidade etc. etc. etc. Pense nisso.


Nota do Editor: Pedro J. Bondaczuk é jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk

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