A Câmara dos Deputados aprovou a criação de uma comissão que irá à Holanda para apurar a denúncia de que uma empresa de lá pagou propina a funcionários da Petrobras. Até aí, nada demais. É obrigação dos deputados, enquanto fiscalizadores do Executivo e da coisa pública. O triste é que essa providência só foi adotada como represália à frustração dos próprios parlamentares não contemplados com cargos na reforma ministerial. PMDB e outros partidos da base de apoio ao governo, constituíram o chamado “blocão” e impuseram a derrota ao governo que, também para decepção popular, trabalhava contra a apuração. Apurar as supostas irregularidades é obrigação de todo governante. Ao menor indício do malfeito, deve ir fundo sobre a questão, promover as reparações e não esquecer de punir os responsáveis, sem prejuízo daquilo por que possam responder cível e criminalmente. Mas, lamentavelmente, esses fatos servem mais para alimentar a fogueira das eleições e das barganhas intermediárias do que para corrigir o curso da administração estatal. Cartéis, ONGs piratas, desvios e tantas outras falcatruas drenam o dinheiro público para a corrupção e pouco ou nada acontece aos responsáveis, a maioria portadora de costas quentes e agindo em nome de grupos politicamente influentes. Não fosse o inconformismo na partição do bolo, os senhores parlamentares não iriam fiscalizar a Petrobras, assim como não o fizeram em dezenas de outros casos que passaram por suas mãos. É isso que leva o povo ao regime de descrença absoluta que hoje se verifica em relação ao homem público de todas as esferas. Passada a crise ministerial, é bem provável que a comissão que vai à Holanda, produza um relatório frio e nada conclua, pois sua verdadeira motivação já terá se extinguido. É uma pena que a democracia brasileira sofra o mal de ser presidencialista mas trazer o parlamentarismo em suas entranhas. Quando ganha a eleição, o governante sai à caça dos perdedores e com eles faz acordos, pagos através do loteamento da administração, para com isso conseguir aprovar seus projetos no Legislativo. Nesse momento, o povo é enganado tanto por uns quanto por outros. O vencedor partilha o seu governo e os perdedores, em vez de fiscalizar, vão gozar as benesses dos cargos e vantagens recebidos. Precisamos de reformas e urgente redefinição do quadro de poder... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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