Vem chamando a atenção em São Paulo e outras cidades brasileiras o aumento considerável dos denominados moradores de rua. Numerosas pesquisas vêm demonstrando que não há um empobrecimento geral no Brasil. Pelo contrário, verifica-se uma diminuição da pobreza, com o aparecimento inclusive de uma classe média emergente, que alcança uma situação de suficiência e relativo bem-estar. Então, como explicar o crescimento do número de mendigos? Comecemos por uma constatação. Parece ser espécie em extinção a dos mendigos “tradicionais”, realmente necessitados, que pediam “uma esmola por amor de Deus” e que encontravam acolhida benévola e caritativa em numerosos corações. Hoje, uma análise sociológica bem feita deveria começar por classificar os moradores de rua segundo várias categorias. Um bom número deles não pede nada. Ficam apenas vegetando nas calçadas, remexendo o lixo, dormindo ao relento, só recebendo algo quando alguém espontaneamente oferece. Tomam suas refeições numas espécies de bandejões oferecidos por certas igrejas e instituições caritativas ou filantrópicas. Adoram o ócio e a vagabundagem. Outros se encontram literalmente prostrados pela droga, da qual não arredam pé. Tornam-se uns mulambos humanos, olhos esbugalhados, face endurecida, prontos a pedir ou a roubar para saciar sua fome da erva maldita. Há os pedintes inveterados, muitas vezes mulheres jovens, fazendo caras de coitadas, sempre acompanhadas de criancinhas das quais não se sabe quem é o pai, mas que são úteis para amolecer o coração dos passantes. Fala-se até, não sei com que fundamento, em aluguel de crianças para pedintes. Há também os que recolhem papelão, e o transportam em carroças que puxam com destemor. São os mais esforçados. Há ainda os mendigos eventuais, que programam sua ida às ruas para os momentos que julgam mais rendosos, como por exemplo no Natal. Informa a “Folha de S. Paulo” (19-12-13) que “famílias que moram em apartamentos na periferia de São Paulo deixam seus lares para morar um mês na rua como se fossem sem-teto, atraídas pela onda de solidariedade típica desta época do ano”. São apenas exemplos. Um trabalho sociológico cuidadoso poderia enumerar ainda outras categorias. Sem negar que um bom número deles passa de fato por situações de miséria material e necessita ajuda, o mais pungente entretanto é sua miséria moral. Ninguém mais pede “por amor de Deus”. Uma sociedade sem Deus produz necessariamente, nas situações sociais mais extremas, uma população carente de amparo religioso, que não sabe que rumo dar à própria existência, que oscila entre a revolta e a indolência, entre o desespero e o vício, preferindo ir morar na rua. Tornam-se presa fácil de movimentos de invasão de casas e prédios. Nota do Editor: Gregorio Vivanco Lopes é advogado e colaborador da Agência Boa Imprensa – (ABIM).
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