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COLUNISTA
Marcelo Sguassábia
17/03/2014 - 15h00
Última vontade
 
 

– Como era da vontade do senhor Arquibaldo Calixto, e passados 30 dias do seu sepultamento, cabe–me agora abrir este envelope, à frente de todos da família, para conhecermos o destino que se dará ao seu espólio. Posso começar?

– Corre logo com isso, doutor, que eu já estou gastando por conta o que me é de direito.
– Aos dezoito dias do ano da graça de dois mil e ... bla, bla, bla, bla, bla, bla. Ei, espera aí...
– O doutor tá ficando verde, a mão tremendo... o que está escrito nesse negócio?
– Ele... ele está dizendo aqui que deixou tudo... não é possível... deixou tudo para mim! Lendo para vocês, textualmente: “Meus filhos e minha mulher não são merecedores de consideração nem de coisa nenhuma, muito menos de herança”. Desculpem, não sou eu que estou dizendo, é o que está escrito aqui, o desejo do falecido. Que situação, a minha. O envelope estava lacrado, vocês testemunharam a abertura. Continuando: “O senhor Salustino, na qualidade de titular do cartório da cidade, vem demonstrando, perante a lei de Deus e a dos homens, que é um sujeito digno e de caráter incorruptível, qualidades que nenhum membro da minha família possui”. É constrangedor isso tudo, eu fico embaraçado...
– Continua, doutor.
– Bom, o texto avança e entra em pormenores que denigrem muito cada um de vocês. Acho que não é o caso de prosseguir...
– Começou, agora vai até o fim. Vamos ver até onde chegou aquele velhote filho de uma...
– Como vocês sabem, pela lei, eu sou apenas um executor testamentário, legalmente incumbido de fazer valer a vontade dos falecidos... Olha, eu posso ter recebido, por este testamento, a herança. Mas também posso abrir mão dela em favor de quem eu desejar. Menos da família Calixto, é claro, pois esta não foi a designação do morto. Ai, que situação!
– Então, o que o senhor pretende fazer?
– O que me parece correto, num caso desses. Penso em transferir o que me cabe em favor da Igreja, ou dos mais necessitados, alguma instituição de caridade. Não ficaria bem eu aceitar toda essa fortuna, ainda que esteja no meu direito. Só fazendas, são 16. Bom, vocês sabem tanto quanto eu o tamanho do legado.
– O senhor doutor está é se fazendo de santinho. Decerto vai providenciar uma triangulação, passando os bens para um orfanato, por exemplo. De comum acordo com o mentor da entidade, depois de um tempo faz ele doar tudo para a amante que certamente o velho tinha e não queria deixar no desamparo. Essa sacanagem deve ter sido combinada “de boca” com o velho, antes dele bater as botas. Essa é que é a verdade, não é? E o senhor doutor há de ficar com uma parte boa da dinheirama, em troca do servicinho prestado...
– Não fosse eu um homem justo e ponderado, já lhe teria arrebentado todos os dentes com essa insinuação difamante.
– O senhor não seria tão perverso. Além de me deixar sem um tostão, eu ainda ficaria banguela. É ruim, hein.
– Em respeito ao saudoso Arquibaldo, vou prosseguir a leitura. Bla, bla, bla... Ai, meu Deus do céu, essa não!
– Fala, desgraçado, que foi agora?
– Continuando o que o finado determinou: “Isso tudo o que eu escrevi até agora não vale nada. Sei que a leitura do testamento é presencial e em voz alta. Se até este momento da leitura ninguém da minha maldita família interromper para falar alguma coisa, minha herança será repartida, na forma da lei, entre os herdeiros legítimos. Mas, se alguém questionou alguma coisa, então o dono do cartório pode, de fato, ficar com tudo. E se assim for, que faça bom proveito”.


Nota do Editor: Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário em Campinas (SP), beatlemaníaco empedernido e adora livros e filmes que tratem sobre viagens no tempo. É colaborador do jornal O Municipio, de São João da Boa Vista, e tem coluna em diversas revistas eletrônicas.
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