É com tristeza que lemos os noticiários e tentamos remendar o corpo da realidade. Os homens públicos abandonaram o governo do presente e passaram apenas a administrar as perspectivas futuras. Próximas eleições, novos cargos, jogos políticos e espaços na mídia. A precariedade dos hospitais públicos do Rio de Janeiro, o uso indevido dos supositórios nos espetáculos de alguns, a sutura da Lei de Responsabilidade Fiscal, a condenação do uso de células tronco por grupos religiosos... São muitos os sintomas para alertar sobre o caráter maligno do tumor que nos assola. Males que não conseguem um prognóstico preciso e contagiam toda a população com a humilhação e a vergonha. Assistir à miséria de um doente entregue à própria sorte num grande hospital passou a ser tão natural e previsível como montar o cenário político das próximas eleições com os nomes marcados e as mesmas e deturpadas promessas de campanha. Caleidoscópios construídos com sangue e frases de efeito. O enredo principal é marcado pela fala de tão poucos e encenado na tragédia de milhões de brasileiros à margem dos planos de saúde privados. As notícias mutilam as percepções com bisturis contaminados e permanecemos com as fraturas expostas depois de vencida a validade da indignação. Suturas de leis... Não seria possível costurar os orçamentos com os reais diagnósticos da saúde pública? Em doses homeopáticas, assumimos uma natureza transgênica, imune a tanto absurdo, e tentamos permanecer alimentados com a esperança, distantes das macas improvisadas, dos aparelhos hospitalares quebrados e dos medicamentos vencidos.
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