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SEÇÃO
Crônicas
01/04/2014 - 09h02
Tradição de uma cidade
Henrique Fendrich
 

Seis horas da manhã, a cidade é pequena, os tempos são outros, não há movimento algum nas ruas. Dentro de casa repousa um casal de velhinhos. Súbito, irrompe a música: direto da calçada, uma bandinha alemã toca a alvorada em homenagem ao dia de bodas do casal. Os velhinhos escutam, se assustam, levantam. Dão de cara com os músicos e a família toda. E então compreendem: é a tradição de uma cidade que os alcança naquele dia de festa. Reza a mesma tradição que, em retribuição a tão singela homenagem, o casal deve oferecer aos músicos um bom café da manhã, com doces e salgados. Então todos entram em casa, onde a música continua, entremeada com lembranças antigas e cervejas. E lá ficam uma ou duas horas, até a banda se desfazer, pois ainda é dia de serviço para os músicos – todos são operários de fábricas de móveis.

Dali a alguns dias eles voltam a se reunir, mas agora já não com alegria. Conduzem, da igreja ao cemitério, o cortejo de um amante da música, uma figura destacada nos clubes de tiro e bolão da cidade. Ao som de suas marchas fúnebres (uma em especial, algo como “Eu tenho um camarada”, que sempre arranca lágrimas), abaixa-se o caixão. Toca-se, nessas ocasiões, as mesmas músicas da Procissão do Senhor Morto, a cada Sexta-feira Santa. E depois todos vão até um dos bares da cidade, onde a própria família do morto paga uma rodada em agradecimento.

Mas os grandes acontecimentos são mesmo as retretas no coreto da praça – sempre nas noites de quarta-feira, durante o verão (que é quando muitas pessoas visitam a cidade). São happenings em que a cidade aproveita para passear, namorar, dar rolezinho – e a criançada cata balas jogadas pela própria banda.

Fora isso, há viagens, desfiles, festas de igreja, bailes do chope. Tudo anotado pelo avô, evento a evento, durante 35 anos, em sete cadernos escritos a mão. São notícias de um tempo que o avô quer que permaneça. Um esforço contra a nossa tradição maior, que é mesmo a do esquecimento.

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