Arquivo Nenê Velloso      Jornal O Módulo - 1ª quinzena de agosto de 1999

Não se pode, e nem se deve esconder, à rivalidade existente naquela época, entre as cidades de São Sebastião, Caraguatatuba e Ubatuba, quê, para conquistar o turista valia tudo... mas, se uniam quando era para prejudicar Ubatuba. Caraguá era a que mais sofria, se encontrava na categoria de Vila de São Sebastião, e ficava no meio do tiroteio, assistindo os turistas passarem para São Sebastião e Ubatuba, e ainda tinha de engolir as piadinhas. De quem vinha para Ubatuba, dizia que só parava ali para fazer xixi, e que Caraguá só têm 10 praias, sendo que uma delas, têm 5 nomes. E os que iam para São Sebastião, diziam que Caraguá: além de vila, era apenas o trevo de São Sebastião - Ubatuba, aí... o jeito era inverter as placas indicativas, para confundir o motorista, diziam que a estrada tinha trechos interditados, pontes destruídas, estavam faltando luz e água, e ia por aí afora, tudo para convencer o turista a ficar em Caraguá.

A placa indicativa do limite do Município, sempre foi às margens do rio Mococa. Por volta de 1960, foi feito um abaixo-assinado, infelizmente, encabeçado por uma ubatubana, pedindo que a divisa de Caraguatatuba fosse estendida até o bairro da Maranduba, passando a pertencer ao município de Caraguatatuba. É claro! Os vereadores julgaram o pedido descabido, e o povo ficou indignado. Mas, o marco da divisa do município... deu um salto, das margens do rio Mococa, foi parar no morro da Lagoinha, depois retornou ao ponto de origem, e agora se encontra as margens do córrego Tabatinga.

Há controvérsia, e o nosso prefeito, precisa passar isso a limpo! Afinal o prefeito usou como slogan de campanha "Resgatar Ubatuba", e nada melhor, que começar pelas divisas. Afinal, legalmente a quem pertence à praia de Tabatinga? Caraguá? ou Ubatuba?. Como diz o ditado: "O que é de raça, corre caça", e Caraguá não perdeu o costume. Foi publicado no jornal O Módulo - 1ª quinzena de agosto de 1999, no caderno de serviços, onde mostra um mapa do roteiro das praias de Caraguá, incluindo praias de Ubatuba: Sapé, Maranduba, Pulso, Caçandoca, Saco das Bananas, Ponta Aguda, parte da Tabatinga e a Ilha do Tamanduá. Veja que neste mapa, não foi demarcada a linha de divisa, portando, entende-se que estas praias pertencem ao município de Caraguatatuba.

Com todas essas provocações, Ubatuba, não tinha tempo nem havia razões para entrar nessa disputa, ia de vento em popa, e já era preferida dos turistas pela própria natureza. Sua preocupação era sempre estar à altura dos títulos recebidos "UBATUBA, UMA PÉROLA RARA PERDIDA NO ATLÂNTICO". "UBATUBA, O ACAPULCO DO BRASIL". "UBATUBA, A CAPITAL DO LITORAL". Comentários semanais: A marcha para o litoral norte, (Alvo principal, UBATUBA). (Escola de pára-quedismo em Ubatuba). (Saiba Ubatuba aproveitar do alto cartaz que desfruta na capital Bandeirante). (Jornalista Americano em visita a Ubatuba), Mr. Kenneth W. Cook, do The Star News de Passadena, Califórnia, visita as novas instalações da Câmara Municipal, e foi recebido pelo presidente da Câmara, Francisco J. da Cunha, e pelos vereadores Silvino Teixeira Leite, Mario Cembranelli e outros, e declarou a Tribuna de Ubatuba: já ter estado antes em nossa cidade, (que tem as mais belas praias do Mundo). Estavam presentes ainda, o Cel. Hélio da FAB, e o Sr Giu Batta Bravim, presidente da SAU - Sociedade Amigos de Ubatuba.

Ubatuba era assim, manchetes diariamente nos principais jornais e revistas. Com quase 100 praias maravilhosas, sendo as do norte, e algumas do sul, ainda intocadas pelos turistas. Os caiçaras chamavam os turistas de "OS BACANAS"- Os Bacanas estão chegando! Matarazzo, o Pai da Bienal era o prefeito, a secretaria do turismo, sob o comando da competente e saudosa Lia de Barros, com sua beleza inconfundível (o baluarte do turismo), linha aérea São Paulo - Ubatuba, pelas asas tranqüilas e seguras do pioneiro bimotor Douglas DC-3 da VASP. Decolando do aeroporto Congonhas e pousando no aeroporto Gastão Madeira em Ubatuba, pontualmente às 9 horas da manhã do sábado, e retornado a capital Bandeirante na 2ª feira pela manhã. A pista de pouso durante a noite permanecia iluminada e preparada para uma eventual emergência, e também demonstrar a dinâmica do governo Matarazzo. Caiçaras e turistas ficavam horas na cabeceira da pista contemplando o céu estrelado na esperança de ver de perto um pouso ou decolagem.

Nas férias de janeiro de 1967, a provocação chegou ao extremo, ao longo da rodovia Caraguá -Ubatuba, placas foram colocadas com os dizeres "VISITE UBATUBA, ANTES QUE SE ACABE". Aí, a justiça Divina foi implacável, veio a jato. E dois meses depois, em 18 de março, o castigo veio do céu, um TSUNAMI invertido. O sol do meio-dia, tórrido, ardente, foi o prenúncio da chuva. A partir das 15 horas, o céu escureceu, e começa a chover, e a cada hora mais forte, e o temporal despencou, medonho, sobre a cidade. O ribombo de um trovão ecoou, mas, não foi um trovão, caiu uma tromba-d’água na serra, provocando uma avalanche, queda súbita e estrondosa da Serra do Mar, arrastando, fragmentos de rochas, florestas e tudo que se encontrava pela frente, provocando uma enorme devastação, pegando a população de surpresa, na calada da noite, e transformando a cidade em um mar de lama, troncos e árvores retorcidas, casas destruídas, (no dia seguinte eu estive lá) mais de mil mortos, sem contar os desaparecidos. Caraguatatuba, rapidamente ressurgiu dos escombros, e 38 anos depois, se encontra, bela, e imponente. Hoje vemos ao contrário, os turistas se hospedam e gastam lá, e só vem até Ubatuba, para o tradicional banho de mar, retornando no fim da tarde, porque não oferecemos nada para que eles fiquem. São Sebastião, também cresceu, hoje se encontra belo e altaneiro. E Ubatuba? Hoje, na minha opinião, não passa de um pálido exemplo do passado. Parabéns, Caraguatatuba! Parabéns, São Sebastião!