Os 50 anos do golpe (ou revolução) de 64, transcorridos nessa segunda-feira, 31 de março – há quem garanta que a tomada do poder se consumou em 1º ou 2 de abril, mas os militares rejeitaram a data para evitar a associação com o popular dia da mentira – marcam um momento de reflexão. Sem dúvida, o que levou à ruptura institucional da época foi o radicalismo, tanto de direita quando de esquerda, que incendiava o país desde o começo dos anos 50, alavancado pela Guerra Fria, que bipolarizava o mundo. As máquinas de propaganda do comunismo e do anticomunismo se encarregavam de desestabilizar o ambiente, as instituições e até a cabeça do povo. Pereceu a democracia que os brasileiros haviam conquistado em 1945, após a ditadura Vargas. Hoje, quase três décadas após a reconquista democrática, consolidada pela Constituição de 88, o país vive agora momentos de agitação e incerteza. Como em toda inconformidade, algumas nuances chegam a parecer com 64, mas são eminentemente diferentes em sua base. Direita e esquerda são, hoje, mais uma ficção saudosista do que ideologia. Somos governados por aqueles que no passado eram tidos como os defensores da ditadura do proletariado que, no entanto, chegando ao poder, o mantiveram como encontraram. Chegam a ser criticados pelos mais radicais, que os acusam de terem se “aburguesado”. Isso prova que o país e a nação são maiores do quem os governa, independente de quem sejam eles. As tentativas que se faz pela reedição dos episódios que levaram ao golpe são risíveis, pois o momento atual nada tem em essência com o de 50 anos atrás. Mas é importante entender que, nem por isso, vivemos no mar de rosas que a propaganda oficial tenta impor. Os governos têm sido fracos na solução dos problemas da população e, por isso, há o esgarçamento do tecido social. As marchas, manifestações e o vandalismo que infernizam diariamente as cidades e as estradas brasileiras é intolerável, assim como as ocupações de propriedades particulares e próprios públicos. A segurança pública é precária e a legislação penal, a título de ser democrática, tornou-se ineficiente. Não corremos os mesmos riscos de 64. Mas, se os governos e as forças da sociedade não adotarem medidas que devolvam a paz e a segurança à população, a nossa democracia poderá ir se enfraquecendo e o caos será inevitável. Não por causa do conflito direita-esquerda, mas pela incompetência funcional. É melhor que todos se despojem da oportunista “lei do Gerson” e lutem para salvar a democracia... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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