Fiquei sabendo pelo eminente escritor e membro da Academia Catarinense de Letras, Enéas Athanázio, da chegada às livrarias, pela Editora Planeta, da obra "Os ditadores mais perversos da História", da até então, para mim, desconhecida historiadora britânica Shelley Klein. Seria dela, também, o livro "As mulheres mais perversas da História", igualmente recém-lançado pela casa editorial paulistana. Agradeço ao Athanázio duplamente. Primeiro por me colocar a par das novidades apresentado-me livro e autora, eu que andava num mundo desconectado; e segundo por me dar a oportunidade de criticar aqui a resenha que ele fez da primeira compilação citada logo acima. Enéas Athanázio, que não conheço pessoalmente, é um dos principais articulistas do semanário Página 3, serviço de informação feito com bravura por uma família de jornalistas em Balneário Camboriú, uma espécie de mini-copacabana catarinense. Homem verdadeiramente culto, numa de suas mais recentes colunas, ele comemora a chegada do livro da senhora Klein, uma espécie de catálogo comentado sobre 15 personagens que, ao longo da História, detiveram imenso poder. Só que, vejam só, está fora dele Fidel Castro (fortuna pessoal avaliada pela Forbes em US$ 550 milhões), fato que o Athanázio julgou sem importância. Estão lá Herodes, Gengis Khan, Pol Pot, Hitler, Idi Amin, Saddam, Pinochet e vários outros mas não está lá o homem que desde 1959 comanda Cuba. Seria algo parecido com um elenco dos melhores escritores de todos os tempos sem a presença de F. Dostoievski ou Balzac? Algo como uma lista dos mais destacados compositores sem J. S. Bach ou W. A. Mozar? Sem exageros, acho que sim. Que a senhora Klein, em razão dessa lacuna escandalosa, tenha decidido tornar seu livro uma farsa, isso é lá problema dela e de quem se dispuser a obtê-lo. Mas fazer elogios a obra sem sequer mencionar a não presença nela do ditador cubano é de um esquecimento impressionante. E isso já é problema de todos os leitores do senhor Athanázio que compram o jornal em que ele escreve (embora eu saiba que a maioria sequer tenha notado o grave erro de análise do articulista). Mas a encrenca não termina aqui. Além de ignorar o imperativo argumento de qualquer crítica à listagem da historiadora britânica, que é, naturalmente, o "esquecimento" de inserir nela o tirano caribenho, o senhor Enéas vai além e diz que, se tem algo de errado na obra, é o fato de nela não aparecer o presidente americano George W. Bush. Em resumo, para o articulista e escritor, que tem verdadeira obsessão contra Augusto Pinochet (como veremos em outros textos nos próximos dias), ao mesmo tempo em que absolve Fidel, o problema do elenco sob exame da autora não é a ausência deste último, um ditador completo, mas a falta nele de um sujeito submetido às regras da democracia e cuja biografia, comparada à do "presidente" de Cuba, o faz parecido a um inofensivo bebê (e qualquer investigador sério chegará a esta conclusão, desde que não apele aos argumentos de um Michael Moore). Mas Enéas é um intelectual, nota-se, um intelectual esquerdista e como todo intelectual esquerdista é incoerente na maioria das vezes em que julga os fatos históricos. Como todos os demais, Enéas usa dois pesos e duas medidas ao verificar a História. E igualzinho aos outros, não admite que alguém possa observar esta duplicidade moral com que ele vê o mundo. É que diante da omissão dele, resolvi pedir alguma explicação, enviando-lhe um e-mail. Instigado por mim a explicar sua resenha estapafúrdia, ele não conseguiu dizer nada exceto me ameaçar com um processo por algo que eu venha a escrever contra ele. Original, não? Além de achar normal a listinha da autora, por conseguinte Enéas não cogitou fazer duas perguntas básicas diante do lançamento do livro por ele elogiado e que seriam necessariamente feitas por qualquer analista coerente: 1) Por qual razão, Shelley Klein, ao decidir compilar comentários a respeito de uma porção do que seriam os mais sanguinários tiranos da Humanidade, não reservou espaço para um sujeito que está há 46 anos no poder, tempo muito maior do que tiveram Joseph Stálin, Hitler, Mao Zedong ou Kim Jong-il? As peripécias do comandante, na visão dela, não seriam suficientes para colocá-lo numa lista de 15 nomes? 2) Ao poupar Fidel Castro de sua análise, quais então foram os critérios utilizados por ela ao fazê-lo? Castro seria um "ditador do bem"? A exceção das exceções? Para muitos, para Enéas e Shelley, sim, isso é possível. Os dois, de fato, são mais alguns dos milhares de intelectuais antiamericanos ao redor do mundo, para quem Fidel Castro representaria uma contra-força ideológica ainda em movimento e, por isso, estaria isento de seus crimes. Sai Fidel, entra Hugo Chávez e por aí adiante. Não, não há nada de novo exceto que, por causa dessa maluquice toda, descobrimos o Enéas!
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