O que foi feito de Carlos ninguém sabe. Naquele ano de 1969 (ou seria de 1968?), Carlos – menino de tudo, como as irmãs, meus primos e eu – só queria brincar. O pai de Carlos era esquisito, jamais saía de casa. Se tanto, ia ao portão, sempre de cabeça baixa, e ordenava: – Carlos, hora de entrar. Um dia levaram o pai de Carlos. Pra onde? Ninguém sabe. Carlos se foi, junto com o pai, a mãe, os irmãos. Nunca mais se teve notícia de Carlos. Para onde os levaram é uma incógnita. Depois, disseram aos meus tios que eles eram, todos eles, “terroristas”. Ufa. A vizinhança passou a respirar aliviada. Guri de tudo, eu procurei Carlos naqueles cartazes com fotos (que o governo punha nos bancos, lojas e sei lá mais onde) com um sonoro “Procura-se”. Nunca encontrei a foto de Carlos. Nem a de seu pai. Por onde andará Carlos? Nota do Editor: Orlando Silveira mantém o Blog do Lando (orlandosilveira1956.blogspot.com).
|