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Crônicas
08/04/2014 - 17h02
Preparei–me para ser assaltado
Henrique Fendrich
 

Passava um pouco das nove horas da noite quando aqueles dois rapazes decidiram atravessar a canaleta do ônibus biarticulado e caminhar na minha direção. Eu havia acabado de sair de uma palestra com a Marina Colasanti no Sesc da Esquina e estava com um pouco de pressa para chegar até a parada e ir para casa. Já os rapazes eu não sei de onde vinham, mas podia deduzir que tipo de planos eles tinham para aquela noite. À medida em que eles se aproximavam eu deixei de pensar nas coisas que Marina havia dito sobre literatura e jornalismo e me preparei intimamente para ser assaltado.

Aquela seria a minha primeira vez, pois até então eu não havia encontrado a pessoa certa – alguém que chegasse até mim, apontasse uma faca e dissesse “passa o celular”. Mas para alguém inexperiente até que eu estava bem relaxado. Simplesmente botei a mão no bolso, tirei de lá o aparelho e entreguei aos dois com a maior naturalidade – meio aborrecido, é verdade, como se tivesse pagando meus impostos (como se fosse o governo que estivesse me assaltando).

Bem, era um modelo antigo, estava sem crédito e sem bateria. Levaram ainda uns R$ 30 que eu tinha no bolso e perderam tempo revistando minha mochila vazia. E logo foram embora, sem se despedir, porque já vinha chegando gente pela calçada. Quem chegava era justamente uma mulher que também havia assistido a palestra da Marina. Ela notou a movimentação e perguntou se eu havia sido assaltado. “Modéstia à parte”, respondi. Ela quis pagar então a minha passagem, mas por acaso eu descobri que ainda tinha uns trocados no bolso da calça.

Com esses trocados consegui entrar no ônibus e voltei para casa pensando que agora, finalmente, eu sabia o que era ser assaltado. Procurei em mim o desejo da vingança imediata, os argumentos favoráveis à pena de morte e tudo aquilo que dizem surgir apenas quando você sente na pele o problema da violência – e não encontrei.

Em todo caso, Marina Colasanti, você me deve um celular.

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