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Nós conseguimos realizar a façanha das façanhas na história da humanidade! Nessas terras de Tupinambás, conseguimos, como nos lembra o filósofo Olavo de Carvalho, a opressão sem ordem social, o autoritarismo sem segurança, o caos sem liberdade e a indefinição sem mobilidade. Tudo junto e misturado essa é a cara escarrada de nosso grande legado para todas as gentes. E o pior de tudo é que não são poucas as vozes que afirmam, descrentes, que isso tudo é normal, como também não são minguados lábios que festejam tal situação devido ao grande potencial de transformação social que elas vêem no referido quadro. Confesso: não sei o que iniciou primeiro, se a desordem reinante na realidade externa à alma ou se confusão que impera nela. Talvez, uma e outra, se alimentem juntas da mesma alucinação. Quem sabe? Digo apenas que uma sociedade que acha normal o acanalhamento geral não é uma sociedade formada por pessoas interiormente equilibradas, com seu coração razoavelmente ordenado. Sejamos francos: somos, gostemos ou não, uma sociedade adoecida pelo cancro do relativismo moral e, por isso, indiferente aos valores universais que, quando são evocados, o são em nome duma pequenez oportunista, não por adesão consciente. Isso mesmo! Muitas vezes ouvimos uma e outra garganta gritar: “o que está acontecendo com os valores da sociedade?” Ora, de que valores estamos falando, cara pálida? Quais são os valores que cultivamos em nosso dia a dia? Quais são os tão aclamados, e inauditos, valores que norteiam a nossa vida? Podemos dizer que, à sua maneira, o relativismo moral imperante realizou, com maestria, no coração das brasílicas almas o dito do Marquês do Paraná que reza que aos amigos deve-se garantir tudo, aos inimigos nada e aos indiferentes os rigores da lei, dos olhares e das convenções. Bem, na falta desses rigores, passa-se a imperar a arbitrariedade da vontade umbilical dos círculos de amigos e das ideologias, para a infelicidade geral dos indiferentes, haja vista que vivemos num país onde se conseguiu ter opressão sem ordem social, o autoritarismo sem segurança, o caos sem liberdade e a indefinição sem mobilidade. Ah! E antes que eu me esqueça, sei que muitos dirão que tudo isso depende do ponto de vista de cada um. Pontos de vista que vêem a si mesmos como sendo uma manifestação apolínea duma verdade unívoca, inconteste, velada e, inevitavelmente, de papelão, como tudo o mais que hoje reina em nosso país que se entregou de corpo e alma a esse relativismo tosco que tão bem reflete a loucura reinante. Já estou sabendo. Já estou branqueando os cabelos de saber.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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