A greve da Polícia Militar da Bahia, embora ilegal, serviu para – além de forçar o governo a rever os salários e condições de trabalho dos policiais – demonstrar à sociedade local e ao Brasil o que acontece quando uma população fica sem o trabalho da polícia para sua proteção. Os homicídios multiplicaram-se por quatro, dobraram os furtos e roubos de veículos e proliferaram os saques. Sem segurança, os transportes entraram em colapso e a população viveu o caos e o medo. Tanto que o governo, para evitar problemas ainda maiores, atendeu as reivindicações da classe. O governo federal se fez presente através do ministro da Justiça, e até a igreja católica participou das negociações através da presença física do seu arcebispo. Provas de que, quando há o estado de necessidade, encontra-se a solução. Mesmo regulamentarmente impedidas de fazer greve, as tropas das PMs de diversas unidades federativas têm recorrido ao recurso extremo e, como sempre, quem padece é a população. Existem vários exemplos anteriores aos da Bahia mas, ainda assim, os governadores – patrões das polícias – continuam ignorando os reclamos da classe, o principal deles referente aos baixos salários que praticamente obrigam o policial a fazer “bico” para complementar sua renda insuficiente. Os PMs de todos os Estados querem apenas o reconhecimento da essencialidade de suas funções, os inerentes riscos de vida e saúde e, como resultado, receber salários compatíveis, que os permitam viver e cuidar de sua família. Mas isso lhes tem sido negado pelos governantes, que executam políticas salariais voláteis e temerária, com abonos, adicionais temporários e outras medidas paliativas que tumultuam e dividem a classe. É importante considerar que em qualquer das unidades da federação é possível repetir-se o caos vivido pela Bahia. Para que isso não ocorra, os governos estaduais, o federal e os entes da sociedade têm de agir em busca de soluções. Além da questão salarial, é preciso acabar com a cultura de que tudo o que a polícia faz é errado e que os bandidos sempre têm razão. Isso tem levado a população incauta a manifestações, confrontos e mortes. As próprias PMs possuem suas corregedorias e meios próprios para conter e punir os excessos cometidos pela tropa. É preciso aperfeiçoar esse serviço em vez de apoiar as forças externas que, normalmente insufladas pelo crime organizado, vêem excesso e até crime em todo trabalho policial. Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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