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Crônicas
04/05/2014 - 10h00
Maldição do tetra
Pedro J. Bondaczuk
 

A morte de Ayrton Senna priva o esporte brasileiro de um dos seus raros ídolos ainda em atividade e o maior deles desde 1984, quando começou a correr na Fórmula 1. Todavia, morreu somente o homem, cumprindo, embora de forma prematura e trágica, um destino comum a todo ser humano. O mito, certamente, não morrerá jamais. Permanecerá nos corações daqueles que o amaram e até daqueles que não morriam de amores pelo nosso campeão.

Figuras como Senna, como Garrincha (o Mané das pernas tortas, que acabou seus dias na indigência) e principalmente como Pelé, mais vivo do que nunca, jamais se apagarão da memória dos brasileiros. O mesmo vale para Eder Jofre, Maria Esther Bueno, Joaquim Cruz, Zequinha Barbosa, Adhemar Ferreira da Silva, João do Pulo etc.

São heróis em suas atividades, num país tão carente deles. Embora sejam insubstituíveis, deixaram um exemplo positivo, que certamente vai frutificar. A morte de Senna causou maior impacto por ele estar ainda em plena atividade, no vigor dos 34 anos, com amplas chances de quebrar todos os recordes possíveis e imagináveis no automobilismo. Se o faria ou não, a partir de agora ficará restrito, somente, ao terreno da especulação.

A verdade é que nos últimos anos, o piloto paulistano era o melhor dos embaixadores de que o País dispunha. Os brasileiros orgulhavam–se dele e ele revelava um orgulho imenso de ter nascido no Brasil. Uma imagem que jamais vai se apagar da minha retina é a de Senna encostando a sua Lótus negra junto a um muro, no circuito de rua de Phoenix, no Arizona, apanhando junto a um espectador uma bandeira verde e amarela, após uma suada e então surpreendente vitória, e rodando por todo o circuito, exibindo–a para todos.

Era o dia 22 de junho de 1986. Na véspera, a seleção brasileira havia sido eliminada pela da França, na Copa do Mundo do México, na cobrança de penais. Reinava entre a torcida um imenso baixo–astral. O jovem piloto devolveu–nos, na oportunidade, e em dezenas de outras, o nosso orgulho, ferido nos campos de futebol.

Um mito como esse é imortal, embora jamais venhamos a tê–lo novamente entre nós. Que sua morte encha nossos esportistas de brios e assim eles obtenham, em pistas, quadras, ringues, piscinas e campos, o mesmo sucesso desse brasileiríssimo Ayrton Senna, cujo sobrenome era da Silva... Que nos estádios dos Estados Unidos, a partir do próximo mês, nosso selecionado acabe, de vez, com a “maldição do tetra”.

Aliás, essa parece uma sina do esporte brasileiro. Depois da conquista do tricampeonato no México, estamos na fila há longos 24 anos, quase um quarto de século, para sermos outra vez campeões. Nelson Piquet, que tinha a chance de, na Fórmula 1, conseguir essa façanha, se afastou dessa categoria.

E agora essa... O nosso Senna morto... Parece um pesadelo, um sonho mau, do qual venhamos a acordar a qualquer momento e rir de nossas aflições. Infelizmente não é. O corpo do jovem piloto será sepultado na São Paulo em que nasceu e tanto amou. Seu espírito, não. Terá sempre o primeiro lugar no pódio do nosso coração. Sua sepultura será, parodiando o escritor argentino Jorge Luís Borges, “o ar insondável...”. 

(Crônica publicada na página 2, do caderno de Esportes do Correio Popular, em 3 de maio de 1994, dois dias após a morte de Ayrton Senna na Curva Tamburello do Circuito de Ímola, na Itália).


Nota do Editor: Pedro J. Bondaczuk é jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk

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