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Crônicas
06/05/2014 - 15h06
Sonho passado adiante
Henrique Fendrich
 

Leio na entrada de um dos restaurantes menos recomendáveis em que costumo almoçar: “Passo o ponto”. E venho lendo isso há muito tempo, o que me leva a concluir que ninguém está interessado nele. O lugar até que é bem localizado. Mas talvez o dono esteja pedindo mais do que ele vale. E, além do mais, o espaço parece pequeno demais – é apenas com grande aperto que os clientes conseguem se servir. Seja como for, o aviso continua lá, o que significa que o dono continua querendo passar o negócio adiante.

É um homem velho e irritado que costuma ralhar com suas funcionárias na frente de todo mundo. Porque elas demoram bastante para perguntar o que os clientes querem beber e para trazer mais da comida que acabou no buffet. O homem trabalha no caixa, mas às vezes larga tudo e vai ele mesmo servir as bebidas. Tenta ser simpático, mas é de uma simpatia agressiva. Eu me pergunto com que estado de espírito trabalharia eu caso quisesse passar o ponto e não conseguisse.

Porque, por trás de um anúncio como “Passo o ponto”, eu consigo enxergar frases como “Não deu certo”, “Pensei que seria diferente”, “Quebrei a cara”, “Fracassei”, “Não estou satisfeito aqui”, “Quero fazer outra coisa da vida”. Em algum momento a esperança que o dono teve ao iniciar aquele negócio se desfez. E pensar que, mesmo diante de tão tristes constatações, ainda é preciso trabalhar lá! E ainda encorajar os compradores, falar que é um ótimo negócio, que o restaurante já vem com clientela fixa, que o sucesso certamente aparecerá. Talvez apareça mesmo, não é porque um não conseguiu que todos estão condenados ao mesmo destino. Uns levam mais jeito, uns fazem a mesma coisa de maneira diferente, uns recebem golpes favoráveis do acaso – uns sonhos vingam e outros são passados adiante.

Mas ultimamente nem o velho parece estar com muita esperança de fazer negócio. A cada cliente que vai embora ele diz “até amanhã”. Pois no dia seguinte, inevitavelmente, ele estará lá de novo.

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