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Opinião
08/05/2014 - 11h03
Descambando pela ladeira
Dartagnan da Silva Zanela
 

Crianças, como todo e qualquer ser humano, amam serem ouvidas. O que elas mais querem não é um celular de última geração, ou uma bicicleta nova, ou qualquer bugiganga eletrônica de última geração. O que elas mais querem mesmo é atenção.

Quando vejo pequeninos numa sala de aula falando até pelos cotovelos, vejo um ser humano cioso por ser ouvido. Como ele não recebe a merecida e afetuosa atenção na intimidade do lar, procura-a, digo, clama por ela num lugar e num momento inapropriado para furtá-la a qualquer custo.

A verdade é tão dura quanto triste. Os homens modernos têm muito tempo, avulso, para suas preciosas telenovelas, para suas imperdíveis conversas fiadas, para seus passeios pelas redes sociais e, em muitos casos, para suas reuniões regadas com toda ordem de desregramentos, porém, é demasiado ocupado, atarantando, para sentar-se ao lado do seu curuminzinho e perguntar-lhe: “e aí filhão, como foram suas aulas hoje? O que a sua professora lhe ensinou? O que você está inventado?” Ou qualquer pergunta do gênero.

Sentar-se e fazer o que muitas das vezes nos esquecemos: demonstrar o quanto realmente nos importamos com ele, com o universo dele.

Um gesto simples que, além de ter os óbvios reflexos afetivos, também contribui para o desenvolvimento cognitivo do infante. Detalhe: não é necessário ser douto em matéria de educação para fazer isso. Basta querer ouvir com sincero interesse o que o miúdo tem a dizer.

Esse diminuto gesto fomentará no íntimo da criança um fecundo sentimento de confiança que o instigará a silenciar-se onde e quando convém silenciar pra ter pauta na prosa que terá, mais tarde, com aquele que está cioso para ouvi-lo. Tal empenho o levará a exercitar a sua capacidade de concentração que, consequentemente, ampliará o seu poder de atenção, dilatará a sua memória e, principalmente, irá aprimorar a sua capacidade de expressão.

Porém, para que isso ocorra, efetivamente, é necessária uma relação sincera da parte do adulto para com o infante. O fingimento nosso de cada dia não serve.

Enfim, tal prática auxiliará a lapidar uma inclinação natural do ser humano à generosidade. Sim, toda vez que a criança estiver indo para casa, com toda certeza estará imaginando-se contando o que deseja noticiar das mais variadas formas possíveis. Imaginará as suas possíveis reações ao ouvir o que ela está ansiosa por lhe contar porque ela tem certeza que você deseja realmente ouvi-la.

Mas, infelizmente, também temos em nosso íntimo uma inclinação a mesquinharia que nos move a interessarmo-nos muito mais por nosso umbilical universo. Infelizmente, gostemos ou não, na maioria das vezes, reforçamos essa inclinação nos mancebos com o nosso indisfarçável desinteresse por eles.

Não é à toa que, hoje, raríssimos jovens prestem a devida atenção no que os mais velhos têm a lhes dizer. No fundo, eles aprenderam a ser mal-educados imitando o nosso compulsivo mau exemplo. Reproduzindo nosso desprezível modo de ser.


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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