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Opinião
09/05/2014 - 07h00
Nação por acaso
Amadeu Garrido de Paula
 

Tosca fábula lusitana compôs o prólogo de nossa história. Três caravelas foram lançadas às águas marítimas alentejanas a esmo, supostamente a caminho das Índias. Nada mais se sabia. Como se vê, o hábito oficial dos segredos de estado é antropológico, incrustado no gene do poder.

Na platitude de conveniente calmaria, por acaso, sorte, a realização de um grande destino, alguém comove os tripulantes com o sempre esperado “terra à vista”. Primeiro, uma ilhota; segundo, uma “terra” e, por fim, um continente. O “script” estava realizado.

Se tudo foi acaso, sorte, presente dos deuses, tudo é lucro, tudo é
vantagem dos poderosos e de seus prosélitos, bandidos saqueadores; não há corrupção, posto ser natural o roubo e o furto de suas riquezas, na origem pela metrópole e, posteriormente, pelo Império e uma República, supostamente republicana, federativa, democrática e justa.

A historieta do descobrimento haveria de ser montada. Do contrário, a ilha, a terra e o continente poderiam despertar a consciência de desbravadores e construtores de um país, que deixaria de ser propriedade da Coroa; aproveitadora das imensas riquezas descobertas, salvação de uma monarquia decrépita e de um país europeu pequeno e pobre, por meio de seus leais prepostos enviados à “terrinha”.

Evidentemente, evoluímos, por bem ou na marra. Jamais podemos olvidar a bravura de nossos irmãos, em suas justas revoltas e sua luta renhida frente ao dominador escorchante, inclusive nos momentos subsequentes à tíbia e ocasional declaração de independência, graças as quais um “grito” se consolidou; jamais esquecer de nossos grandes pensadores, dos políticos probos, dos juristas perfeitos, dos poetas da liberdade e tribunos da plebe – “rectius”, dos escravos – presentes já no Império e na República Velha.

Entretanto, o que parece prevalecer no “ethos” de nossos governos, de modo a contaminar segmentos significativos da nação, é a irresponsabilidade do acaso, da sorte grande, o otimismo, que é sempre bom, mas na dose certa. Atavismo com o qual ainda convivemos. Esquece-se que a formação de um país e de uma nação organizada é como o amor: luta constante e verdade.

O sentimento de grandiosidade quixotesca, com a diferença de ser real e não satírica, como na pena de Cervantes, hoje se escancara à vista de estádios futebolísticos pomposos, postos em terras áridas e miseráveis, onde não há esgoto, água tratada, e onde vivem jovens deseducados, incultos, agressivos, e desculpáveis. Desculpáveis porquanto a culpa não é sua, mas dos governos de todos os tempos que não foram cumpridores de seus mais elementares deveres.

Assim segue nosso “ethos” megalômano, impulsionado pelas mentiras inatas ao atual governo. A história se repete e novamente veio a providencial “calmaria”, na forma de “marolinhas”. A crise de um mundo conectado teria, aqui, um confortador oásis. Só a sofreriam os “loiros de olhos azuis”. Mas, como sempre, a fábula chegou ao fim. Vivemos num país carente de infraestutura sem a qual é mentirosa a fala em desenvolvimento, neste mundo competitivo. A inflação volta a ser o monstro da meia-noite. A indústria está estagnada. O “superavit primário”, cujo “deficit” um antigo político popularizava com o nome de “bandalheira”, é maquiado pelos homens cordiais, as figuras do “jeitinho brasileiro”, que ocupam os mais importantes cargos da administração.

E todas as falsidades, inclusive as demoníacas, dantescas, valem à reeleição, um óbvio mal à nossa democracia. Criticada, quanto instituída, por aqueles, macunaímas de que está repleta nossa política, que hoje a perseguem com unhas e dentes.

Tudo isso não impede que, com a seriedade dos povos que se prezam, o nosso promova seu “salto quântico”, rompa com o atual estado de coisas, volte às ruas (por que não?), destitua, segundo os parâmetros do Estado de Direito, o atual governo e exija vigorosamente do sucessor que se façam reformas, revoluções, mudanças profundas, para reverter-se as circunstâncias que nestes dias nos embrutecem e conduzem os brasileiros a um inverno de absoluta desesperança.


Nota do Editor: Amadeu Roberto Garrido de Paula é advogado especialista em Direito Constitucional, Civil, Tributário e Coletivo do Trabalho e fundador da Garrido de Paula Advocacia.

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