O prefeito de São Paulo diz que os organizadores da greve que parou a maior cidade do País na terça-feira, utilizaram “tática de guerrilha”, e está pedindo a apuração do ocorrido através das polícias civil e federal. Na verdade, o que ocorreu em São Paulo é parecido com o havido dias atrás no Rio de Janeiro. Grupos insurgentes passam por cima das decisões dos sindicatos legalmente constituídos para representar os trabalhadores, e promovem a paralisação. Isso também deve ter acontecido em outras praças, com menor repercussão, e não passa do resultado da política de enfraquecimento da autoridade que nas últimas décadas tem se cultivado à guisa de democracia. Os governos e suas instituições têm perdido o “imperium” da lei e, dentro dessa visão estrábico-libertária, as minorias ativas e ousadas têm sido toleradas nos seus arroubos e a autoridade, acuada, muitas vezes acovardada e interessada exclusivamente em aparecer bem na fita para conquistar os votos da próxima eleição, faz de conta que manter a ordem pública não é sua obrigação. Deixam os movimentos sociais (ou anti-sociais, depende da ótica pela qual se vê) esbulhar propriedades, tumultuar a vida da população, vandalizar e promover toda sorte de distúrbio. Quando muito, mandam a polícia reprimir a situação já criada, que deveria ter sido administrada antes de chegar ao nível caótico. Aí, a polícia é taxada como violenta, até pelas próprias autoridades que a requisitaram para agir. O que querem que faça? O apequenamento da autoridade está indo longe demais. Na elaboração do pacto social, o cidadão concordou em abrir mão de parte de seus direitos e deveres individuais e transferi-los para o Estado exercê-los coletivamente, sob representação. No Brasil contemporâneo, o Estado tem sido ausente e negligente com as periferias e grandes segmentos da sociedade. Como o vácuo social não existe, toda vez que o Estado deixa de atuar, é substituído por outras forças, principalmente pelo crime organizado. Temos milhares exemplos disso por todo o território nacional. Importante a iniciativa do prefeito de São Paulo, de apurar responsabilidades na greve que infernizou e tumultuou a vida da cidade, mas é preciso que ele próprio e as autoridades estaduais e federais, assim como os parlamentares, tenham a coragem suficiente para enfrentar os problemas que vierem a ser identificados, punir os seus executores e, com isso, libertar a população do jugo desses desordeiros sociais, restabelecendo-lhe o sagrado direito de ir e vir... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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