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Crônicas
02/04/2005 - 22h07
Reabrem-se os porões
Vanessa Candia
 

Um ilustre convidado visita aquela antiga moradia. Ouve-se o barulho de passos descendo a velha escada. Abre-se a grande e pesada porta de madeira que, durante 20 anos, estivera fechada. É possível identificar o ranger enferrujado das dobradiças. Sob o piso, sujo e empoeirado, tristes recordações e vergonhosas histórias. Um período escuro é relembrado.

*

Parece que se foi o tempo em que democracia era a palavra-chave do PT. Não se deve tirar o mérito das melhorias econômicas que o governo Lula fez nestes dois anos de governo. No entanto, algumas atitudes são tão contraditórias com o antigo e famoso discurso do presidente.

Nas eleições de 2002, tudo indicava que o povo brasileiro aprendera a votar. Não se deixou iludir por políticos intelectualizados, com excelentes discursos e elegância impecável. O que a população queria era alguém que enxergasse suas reais necessidades como fome, educação deficiente e falta de saúde. Daí, escolheram Lula. Pois, ninguém melhor que ele - um ex-metalúrgico e nordestino -, que certamente entendia o sofrimento do povo. Na verdade, ao que tudo indica, ele venceu pela insistência. E pelo discurso democrático. Agora, sim, a população teria acesso quase direto ao Palácio do Planalto.

Mas não foi somente a população que se animou. Outra classe animou-se mais do que todos: a imprensa. Finalmente, havia chegado o dia em que ela poderia exercer verdadeiramente a liberdade de expressão. No entanto, não foi bem assim. Foi na frente desta que a raposa se despiu da pele de ovelha.

Conselho Federal de Jornalismo, Ancinav, Lei Geral dos Meios de Comunicação de Massa, IBGE, todos teriam que andar conforme a carruagem do governo.

*

As janelas são abertas e a luz espanta toda a obscuridade do local. A claridade torna o lugar um tanto agradável.

*

O início

Tudo começou com o Conselho Federal de Jornalismo, que tinha como principal função orientar, fiscalizar e orientar. Depois a Ancinav, que queria controlar as produções culturais brasileiras - e justo numa época em que o cinema brasileiro deslanchava no mercado internacional. Seria esse "controle" devido às fortes críticas transmitidas nos filmes? A Lei Geral sob os veículos foi gerada no mesmo ventre, advindo, assim, mais restrições. E a última se relaciona ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ordenando que qualquer pesquisa, antes de se tornar pública, deva passar pelo aval do governo. Caso não aprove o resultado, outra pesquisa deve ser feita, contanto que os resultados obtidos agradem toda a bancada do governo.

Com relação ao "controle" sobre as pesquisas, os mais "vigiados" seriam os funcionários do Instituto. "Os servidores que tenham conhecimento prévio dos resultados deverão manter rigoroso sigilo, sob pena de responsabilidade." Isso sem mencionar a imprensa. O jornalista Luís Weis, critica que "os novos procedimentos acabam com a praxe de passar o material para a mídia, com embargo de um punhado de dias para publicação, a fim de que os jornalistas tenham oportunidade de digerir a numeralha, ouvir o pessoal do IBGE, além de acadêmicos, especialistas e tutti quanti, e ainda apurar histórias da vida real, as tais matérias humanas que servem para cortar a insipidez das reportagens montadas em estatísticas". E, como sempre, a maior prejudicada é a população. E sempre a população.

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Levanta-se a poeira. O ilustre convidado limpa o local que, com o passar do tempo, torna-se um lugar agradável. A estrutura está boa, só precisa de adaptações. Ao menos, para esse visitante.

*

O antropólogo, Roberto DaMatta, em entrevista à Veja, "clinicou" o caso do governo Lula. "Há atualmente um surto de centralização. São os velhos barões se insurgindo com novos nomes. O governo quer um barão para mandar em cada setor: barão da imprensa, barão da universidade, barão da cultura..." Já a cientista política Lúcia Hipólito sugere que seja criado o "IBP, Índice de Bobagens Petistas, para depurar se o governo tem aumentado ou diminuído sua capacidade de falar besteiras".

Só para lembrar, o Artigo 5° da Constituição esclarece que "é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional". E continua em outro parágrafo dizendo que a "lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais". Parece que o ilustre companheiro não conhece as leis do País que rege, ou se julga acima delas. Isso soa familiar.

A luta pela democracia atravessa a barreira ocidental. No mundo árabe a luta pela democracia é bem mais ferrenha do que o período mais negro da ditadura. Somente agora, com a queda de Saddam Hussein, é que a população consegue perceber resquícios democráticos. Não podemos esquecer da "ilha" e de seu mais antigo ditador: Fidel Castro e sua impenetrável Cuba. China também busca seu lugar ao sol.

O interessante é que, enquanto os países lutam em busca de liberdade, espelhando-se em países em que a democracia pode ser claramente vista, o Brasil anda em marcha à ré querendo implantar métodos cubanos de ensino, incentivando - indiretamente - "trabalhadores" a invadirem propriedades e propondo reformas educacionais que, ao invés de melhorar o ensino, estimulam o retrocesso nas poucas melhorias alcançadas. E, por mais que a esquerda - irônico isso, não? - seja contra, os governantes do PT continuam em sua marcha desenfreada.

Ironicamente semelhante

A reportagem de capa da Veja, edição de 26/1, "O PT deixou o Brasil mais burro", define o PT como um partido que toma "iniciativas obscurantistas recentes... e sua burrice na acepção mais brasileira da palavra, que não apenas é ignorância - é também teimosia, cegueira ideológica, preguiça, casmurrice e empacamento".

Mas tanta ânsia por controle pode ser até compreensível. O governo, em apenas dois anos, já teve inúmeros escândalos e contradições como o caso do Waldomiro Diniz, ex-assessor de José Dirceu, o grande número de ministérios e o troca-troca de ministros, a conturbada reforma na educação, o avião do presidente e o mais recente escândalo envolvendo prováveis doações em dinheiro feitas pelas Farc colombianas a candidatos do PT. Ironicamente, só o governo Collor teve tantos escândalos. Realmente, o PT tem fortes motivos para querer "calar a boca" da imprensa.

Num discurso durante a promulgação da Constituição de 1988, Ulisses Guimarães expôs sua repugnância com relação a qualquer ato contra a democracia:

"A Constituição certamente não é perfeita. Ela própria o confessa ao admitir a reforma. Dela se pode discordar, divergir... Descumpri-la, jamais! Afrontá-la, nunca! Traidor da Constituição é traidor da Pátria. Conhecemos o caminho maldito: rasgar a Constituição, trancar as portas dos parlamentos, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério. (...) Tenho ódio à ditadura. Ódio e nojo." (5/10/1968)

*

Passados vinte anos de democracia, o Brasil tem uma economia estável e a imprensa cerceada. Só faltam os militares, pois os porões já foram limpos.

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