Matilda era uma galinha muito esperta. Só faltava falar. Conhecia seu dono pelas passadas. Era ouvir o arrastar dos chinelos que se arrepiava e cacarejava ruidosamente. Era o xodó do homem e o desgosto da mulher. A esposa a detestava. Tinha ciúme do marido. Achava Matilda muito saliente para uma galinha. Que chamego era aquele entre os dois? Até para dormir o bicho era folgado. Nada de galinheiro. Dormia em uma cesta dentro do quarto. Era difícil até para o casal namorar, pois a galinha se agitava quando ouvia qualquer ruído na cama. Para não melindrar Matilda, o homem quase não beijava ou fazia carinho na esposa. Se notava a galinha tristonha perdia o apetite e acusava a companheira de tratar mal a sua amiga de penas. Por vezes chegou a dizer que iria embora de casa levando Matilda. Uma tarde porém a galinha sumiu. Foi um Deus nos acuda! Procura daqui, corre dali e nada. O pobre homem teve um ataque do coração. Passou uma semana no hospital. Quando voltou para casa foi recebido com uma gostosa canja. Suspeitou que se tratava da Matilda, mas a mulher mostrou as penas escuras da ave abatida. Ele comeu com gosto e ainda lambeu os dedos. Afinal a sua querida galinha tinha as penas amarelas! Silenciosamente a esposa ria. O marido nunca iria descobrir que ela trocara a antipática Matilda por outra franga e que a essas alturas, a sua rival já servira de banquete para outra família.
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