Nunca antes nesse País, a aposentadoria de um ministro do Supremo Tribunal Federal se transformou em acontecimento nacional, como a saída de Joaquim Barbosa, anunciada nesta quinta-feira. Admiradores, adversários, políticos e diferentes segmentos se manifestam. O assunto é manchete nos principais jornais. Mesmo podendo ficar mais dez anos, até completar 70 anos e cair na chamada “aposentadoria expulsória”, o magistrado sai de cena. Especula-se que por pressões, por razões de saúde etc. Mas o motivo, a essa altura, pouco importa. O menino negro e pobre, que saiu do interior mineiro para estudar, cumpriu todas as etapas sem precisar de cotas ou favorecimentos que os demagogos hoje tornam institucional. Trabalhou, estudou, participou de concursos e fez carreira no Ministério Público de onde, há 11 anos, foi pinçado e feito ministro da mais alta corte. Como relator do mensalão, deu uma nova dimensão aos julgamentos da casa e – quis o destino – coube-lhe, como presidente, mandar prender os poderosos condenados no processo. Nesses últimos anos, ganhou notoriedade e acumulou desafetos internos e externos. Agora, ao sair, é uma figura popular, tido até como um possível salvador da pátria. Só a história dirá se foi Barbosa que deu notoriedade ao STF ou se foi o STF que notabilizou Barbosa. Por ora, o que sobra é a impressão de que ambos lucraram e, para a sociedade, sobrou a idéia de que a Justiça se faz presente também sobre os endinheirados e detentores do poder. Oxalá os avanços obtidos pela corte sob sua batuta sejam ampliados e aperfeiçoados pelos pares e sucessores, e seus arroubos – que o levaram a contendas desnecessárias e pessoalmente desgastantes – sejam relevados e entendidos como válvula de escape do ser humano que, além de sua alta responsabilidade profissional, é acometido pela dor crônica da sacroileíte, doença que afeta sua coluna desde 2008. Afora o mensalão, Joaquim Barbosa empenhou-se institucionalmente para tramitação mais rápida dos processos em todas as instâncias. Pugnou pela ética e bom comportamento dos magistrados de todo o país. Embora ainda haja uma extensa tarefa a se desenvolver nesse sentido, é preciso manter viva essa cultura ética, reformista e desburocratizantes. A justiça brasileira precisa ganhar celeridade, superando as brechas, as chicanas e tudo aquilo que retarda sua ação... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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