A notícia de que o governo concedeu o justo aumento de 15,8% aos agentes, escrivães e papiloscopistas da Polícia Federal, para evitar a greve durante a Copa do Mundo, é um forte argumento para as ações de outras categorias também defasadas e até para as que pressionam politicamente. Já tivemos, mês passado, as greves de motoristas e cobradores de ônibus, em muitas praças chamadas à revelia dos sindicatos. Agora é o metrô paulistano deixando a pé 4 milhões de usuários. Os ditos “sem teto” ameaçam até bloquear o acesso aos estádios de futebol, como já tem feito, impunemente, com vias públicas vitais à vida urbana. Esse número pode se tornar o piso referencial das reivindicações dos demais trabalhadores, que hoje lutam algum ganho real a partir de 6, 7 ou 8% da inflação oficial. O governo, fatalmente argumentará que reajustes nesse nível podem comprometer o controle da inflação, mas é bom lembrar que, mesmo com os reajustes na base de um dígito, a luta anti-inflacionária já é problemática e isso não se deve à política salarial, mas a outros fatores. Embora se negue oficialmente a relação entre a reivindicação, a greve e a Copa, os funcionários da PF demonstraram força e senso de oportunidade. Nada impede que outros trabalhadores de setores essenciais também pressionem seus órgãos empregadores dessa mesma forma e venham a conseguir um bom percentual. Isso, para nós, fica claro ao verificarmos que, pelo fato de não ter direito à greve, a Polícia Militar de São Paulo, que ganha um dos piores salários entre suas congêneres dos demais estados, mesmo tentando negociar e fazendo várias reuniões com representantes do governo, não conseguiu sensibilizar o governador ao reajuste. Em outros estados, onde foi feita a greve, com os riscos da ilegalidade, os governadores deram aumento. É uma pena que seja assim. Os governantes dão a má impressão de que só avançam sob pressão. Pior que, em muitos casos, a demonstração de desinteresse e fraqueza oficial é tão grande que ensejam a greve, a desobediência civil, a baderna e o sofrimento da população que paga os impostos, deveria ter os serviços essenciais à sua disposição, mas não pode com eles contar. Precisamos, a todo custo, recuperar o equilíbrio nas relações entre governo, concessionários, patrões, empregados e movimentos sociais. O estabelecimento do caos não atende aos interesses de ninguém. Nem mesmo daqueles que insistem em provocá-lo... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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