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Crônicas
17/06/2014 - 10h04
Terrível encontro conosco mesmo
Henrique Fendrich
 

Não gosto de cortar o cabelo e, para ser sincero, ainda não entendi o que Deus pretendia ao fazer com que ele crescesse incessantemente. A cada três meses a cabeleira se torna insustentável e eu me obrigo a ir atrás de alguém que dê um jeito nela. Normalmente vou a uma barbearia, embora, em termos de barba, eu não tenha mais que uns poucos fiapos. É um lugar movimentado e cheio de mimos para os fregueses. Mal eu me assento à cadeira do barbeiro e uma mulher me oferece uma série de revistas para que eu me distraia enquanto tesouras e máquinas estiverem derrubando os meus pelos. Recuso, pois sei que atrapalharia a mim e ao cabeleireiro, e não vejo mal em passar alguns minutos entregue aos meus próprios pensamentos.

Coisa que, aliás, tem sido cada vez mais difícil. Admira-me que ainda não veja pessoas mexendo no celular enquanto cortam o cabelo. Já não se admite que uma pessoa fique muito tempo desconectada, ou pelo menos desinformada do que acontece no mundo. E cortar o cabelo leva bem uns vinte minutos, tempo suficiente para tudo mudar, como diz o slogan daquela rádio. Seria no mínimo ridículo se, justamente no instante em que tudo muda, você estivesse imóvel usando um avental onde caem os fios que um dia penteou. Que pelo menos haja uma revista à mão, pois, já que é preciso passar um tempo em completa inatividade, que seja então se informando e acumulando conhecimento.

É com esta mesma lógica que, por toda a parte, têm sido instaladas televisões que exibem as principais manchetes do dia. Não se vai mais a um supermercado sem saber em que pé está a crise na Ucrânia. Não se caminha por um terminal de ônibus sem saber a cotação do dólar. São tele-telas que não tem a função de nos vigiar, mas a de impedir o terrível encontro conosco mesmo – Deus sabe o que poderia surgir disso!

Eu pensava essas coisas enquanto cortava o cabelo, calado, apenas olhando para o espelho e desfrutando ali o meu inalienável direito à alienação.

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