Quando anuncia aumento salarial de 8% aos policiais militares, o governo paulista está atendendo apenas parcialmente a reivindicação da classe que, por suas associações, depois de ouvir os reclamos sobre baixa arrecadação e outros problemas dos cofres estaduais, pediu 19%. Apesar de ser o estado mais rico da federação, São Paulo paga o 23º menor salário entre os policiais militares estaduais brasileiros, assim como, na Polícia Civil, pratica a 26ª menor remuneração aos delegados de polícia, num universo de 27 unidades federativas. Tanto que os delegados fazem sua greve de advertência. No poder durante os últimos 20 anos, os tucanos paulistas fizeram grandes discursos e produziram excelentes peças midiáticas falando sobre os reajustes salariais oferecidos às polícias e carreiras afins. Mas só quem é da classe, quando recebe seu holerite e tem de pagar as contas, sabe o que realmente acontece. A política de prêmios, bônus e aumentos setoriais têm servido apenas para a desagregação das classes que, para aumentar seus ganhos, é obrigada a recorrer ao bico. Em vez de resolver o problema salarial, o que fez o governo? Oficializou o bico, denominando-o “função delegada”, onde o policial militar é levado a trabalhar para a prefeitura em suas horas de folga. Não é à toa que grande número de policiais, em cuja formação o Estado investe alto – um ano para soldado e quatro anos para oficial, em curso intensivo – desmotivada, acaba migrando para outras carreiras ou parte para a iniciativa privada. Muitos dos que ficam, permanecem desmotivados e sem perspectivas na carreira, pois os reajustes de que o governo fala, em boa parte dos casos, são temporários e não incorporam. O grande risco é a apatia e a operação-padrão, onde o servidor executa mecanicamente suas atividades, sem o indispensável empenho pessoal. Dessa forma, ganha a criminalidade. Até porque, além da desmotivação, ainda há a crônica falta de policiais, pois os concursos não são capazes de preencher todos os “claros” do quadro funcional. Depois de dois anos sem reajuste, os PMs paulistas recebem os 8% com total apatia. Esse percentual pouco ajudará em seus orçamentos e – o pior – a falta de perspectivas de carreira é cada dia maior. Não será de estranhar se o nível de insegurança continuar aumentando e a sociedade, a cada dia, sentir-se mais desprotegida. Cada povo tem o governo que elege... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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