No dia 20 de novembro de 1971, a pista do elevado em construção na av. Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro, desabou, esmagando 20 carros, matando 48 pessoas e ferindo dezenas de outras. Hoje vivemos o impacto da queda do Viaduto Guararapes, em Belo Horizonte, que matou dois e feriu 21. No mês passado, um operário morreu debaixo do trilho da linha 17-Ouro do Metrô de São Paulo, que veio abaixo. Nesses quase 43 anos de intervalo entre os acidentes do Rio e de Minas, tivemos muitas obras públicas e particulares despencando, matando e causando sofrimentos. Obras mal executadas, edifícios erguidos com materiais inadequados, reformas sem cuidados estruturais e uma série de problemas que colocam em risco a vida, tumultuam a rotina da cidade e deveriam envergonhar as autoridades e, principalmente, os responsáveis pela fiscalização. O Brasil é detentor de vasto conhecimento na área de engenharia e construção. Tanto que suas empresas são as responsáveis pela implantação de grandes projetos – pontes, edifícios, indústrias, ferrovias, rodovias, hidrelétricas etc. – em território nacional e em dezenas de países ao redor do mundo. Deveria, à sombra dessa mesma competência, possuir também cuidados e esquemas de fiscalização capazes de prevenir e evitar os acidentes e o sofrimento tanto do pessoal de obras quanto de terceiros. Mas, pelo que nos é dado a conhecer, esse setor é largamente prejudicado pela desídia e impunidade, que se tornaram instituições nacionais. Quem um dia já construiu alguma coisa – mesmo uma modesta casa de moradia – sabe do grande número de exigências e fica estarrecido ao ver o grande número de acidentes nas construções. Tudo acontece, evidentemente, porque as normas de segurança não são observadas e pouco ou nada acontece aos negligenciadores que, num país sério, acabariam todos trancafiados e responderiam com seus bens para pagar os danos causados. Chega de mortes causadas pela negligência, pelo ganho fácil e pela ineficiência da fiscalização. Somos hoje um país tecnologicamente desenvolvido e não podemos continuar vivendo como há décadas atrás. Os acidentes realmente podem ocorrer, mas é necessário fazer o maior cerco possível para evitá-los. E se, mesmo assim, ocorrerem, é preciso identificar e cobrar rigorosamente seus causadores... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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