No mesmo momento em que começa a campanha eleitoral, uma rápida pesquisa nos diz que o Brasil ainda tem muitos políticos com ficha suja que, segundo a lei, não poderão disputar. Além de mensaleiros, ímprobos administrativos, corruptos de vários matizes e criminosos diversos, também aparecem, com destaque nas listas, os sanguessugas, parlamentares que desviaram parte do dinheiro que o governo destina à compra de ambulância e equipamentos hospitalares. Eles foram salvos da cassação pelo corporativismo então reinante no Congresso Nacional, mas não escaparão dos rigores da Lei Complementar nº 135, popularmente conhecida como Lei da Ficha Limpa. Antes tarde do que nunca. Algumas fontes dizem que existem, em todo o território nacional, 14 mil políticos ficha suja. Outras, mais abrangentes, chegam a estimar esse número em 346 mil. Mas isso pouco importa. O mais importante é que o ministério público e os juízes eleitorais estejam atentos para evitar que os errantes, mais uma vez, possam ser candidatos e, eleitos, passem a gozar de imunidades, foro especial e poderes que, além de mantê-los impunes das faltas passadas, ainda os estimulem a cometer novas. Já vai um bom tempo desde que o povo começou a abominar os políticos, mercê das mazelas que eles próprios noticiam uns sobre os outros com o franco intuito de prejudicar seus adversários. Isso precisa acabar. A própria Lei da Ficha Limpa sofreu uma série de abrandamentos durante a sua tramitação pelo Congresso. Se, por um lado, protegeu os políticos das artimanhas preparadas pelos adversários, também permitiu que muitos errantes contumazes continuassem suas carreiras pois ainda não haviam sido condenados por um colegiado. Agora, apesar de sua lentidão, a justiça já condenou em segunda instância – portanto em colegiado — imensas levas deles. É preciso, no entanto, atentar para as brechas que ainda possam procurar para continuar impunes. Retirar da vida pública todos os que, por culpa ou dolo, cometeram irregularidades, é imperativo nacional. Sem essa necessária profilaxia, a classe política jamais obterá o respeito da comunidade e, mais cedo ou mais tarde, o país, inclusive sua democracia, irá à pique... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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