Em um dos últimos exames de verificação de aprendizagem promovido pelo governo, um dos piores desempenhos dos alunos da Escola Estadual "Capitão Deolindo" foi no item "leitura e interpretação de imagens". Se este foi um dos itens a serem avaliados deve ter alguma importância. Você discorda? Para sanar essas falhas, temos desenvolvido sistematicamente um trabalho de leitura de imagens e colhemos bons resultados. Ao mesmo tempo, os filmes tem sido um dos recursos mais importantes para trabalharmos a formação de valores positivos tais como as noções de justiça, preservação e de solidariedade. Também têm sido úteis para desenvolver habilidades de resumir, argumentar e de construção de hipóteses. Neste mês, trabalhamos com um filme sem legendas e bastante difícil chamado "Baraka". Abaixo cito dois trechos de trabalhos de alunos: "O filme nos passa idéias através de imagens e sons. A principal idéia que ele nos passa é a da transformação de um determinado lugar e suas conseqüências." "O filme mostra que buscamos exageradamente a evolução e nessa busca acabamos nos esquecendo da essência da vida..." Embora Ubatuba tenha apenas dois cinemas, pode-se alegar que quase toda a população tenha acesso às imagens através da tv. Mas isso não basta, como comprovou o exame. É preciso uma educação do olhar, porque muitas vezes vemos, mas não percebemos, não damos importância ou não entendemos. O processo de ver um filme junto com outras pessoas é muito rico porque nosso olhar e nossa interpretação podem ser confirmados ou contestados. Assim, percebemos que há outros modos de olhar e interpretar a realidade. O processo de ver juntos e de participar de atividades conjuntas cria relações de amizade e companheirismo, fortalece e desenvolve o conhecimento que temos de nós mesmos, do mundo e do outro, como já dizia Paulo Freire: "Ninguém educa ninguém, mas ninguém se educa sozinho; os homens se educam em comunhão mediatizados pelo mundo". Trabalhando na Secretaria de Educação Municipal de São Paulo, organizamos vários ciclos de cine-debate como instrumento de formação e aperfeiçoamento de professores. Muitos temas que seriam áridos, tornam-se mais atraentes e mais fáceis de entender através desse recurso audiovisual. Apenas como exemplo, cito um curta-metragem "Acorda, Raimundo, acorda", que discute a questão de gênero de uma forma tão descontraída e engraçada, que usamos tanto para crianças da pré-escola como para alunos da oitava série e adultos. Atualmente, a rede Unibanco de cinemas, desenvolve em várias cidades o projeto "Clube do Professor", com sessões gratuitas para professores, nas quais são exibidos filmes que irão entrar na programação. Muitos desses filmes têm-se tornado instrumentos muito úteis em nossas aulas, ampliando o nosso repertório e dos nossos alunos.
Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor em Ubatuba (SP).
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