A paralisação do atendimento na Santa Casa de São Paulo, deixa 1,2 mil pacientes sem atendimento todos os dias. Eles terão de correr para outros hospitais públicos ou filantrópicos e engrossar as caóticas filas lá existentes. Mas isso não é acontecimento inédito. A própria Santa Casa paulistana, de 400 anos de existência, já foi obrigada a suspender os serviços, pelo mesmo motivo, nos anos 80 e, nesse intervalo de três décadas, não conseguiu ver resolvida a crise de sustentação. As verbas do SUS (Sistema Único de Saúde) não cobrem as despesas e os governos, embora prometam, não adotam medidas eficazes. O que hoje vivem o hospital e a população paulistana carente de atendimento é lugar comum em todas as localidades brasileiras atendidas pelos hospitais filantrópicos. Das 2500 Santas Casas espalhadas pelo território nacional, pode-se para contar nos dedos aquelas que sobrevivem sem dificuldades financeiras. Antes geridas por grupos ou instituições religiosas e fortemente apoiadas pela comunidade, com significativas doações de empresas e famílias de posse e pequenas contribuições da população – que, nas campanhas, doavam sabonetes, fraldas, papel higiênico e outros produtos de consumo – iam cumprindo sua finalidade. Na medida do possível, faziam convênios e recebiam verbas públicas. Mas, as transformações da sociedade levaram-nas a depender quase exclusivamente dos repasses e convênios públicos e, lamentavelmente, muitas vezes, se transformarem em objeto de sustentação e exploração político-eleitoral. Esse quadro, além de não ajudar, facilitou até a entrada da corrupção, identificada em muitas delas. Hoje, as Santas Casas e similares carecem exclusivamente da verba pública. Os régios doadores do passado, quando podem, são hoje clientes de hospitais privados ou de planos de saúde, que também dão sinais de exaustão. O povo, apesar de ter a saúde constitucionalmente definida como “direito do cidadão e obrigação do Estado”, sofre todas as agruras para ser atendido. A crise da Santa Casa de São Paulo, maior hospital do gênero na América Latina, expõe na principal vitrine nacional, a situação vivida por todas as similares do país. Já que os governos são omissos ou incompetentes, chegou a hora da comunidade reativar seu espírito de solidariedade, mobilizar-se e salvar essas instituições através de doações, campanhas e tudo o que possa ajudar, inclusive a pressão para que o SUS corrija suas tabelas e pague pelo efetivo custo dos serviços. Não vamos esquecer que, mesmo os portadores dos mais caros planos de saúde, se sofrem acidentes ou qualquer intercorrência de saúde, são socorridos inicialmente na Santa Casa ou no hospital público mais próximo. Se eles estiverem em colapso, pode ser a diferença entre a vida e a morte... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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