Quando criança, eu ficava o dia todo na rua. Andava de bicicleta, jogava bola, empinava pipa. Era uma rua de terra e eu chegava sujo em casa. Minha mãe fazia eu me lavar no tanque antes de entrar em casa. Meu bairro não era o pior, apesar de ter usuários de drogas (que eu só sabia que existiam por conta dos pinos de cocaína no chão e latinhas usadas para consumir crack). Além disso, durante a madrugada também era possível ouvir alguns tiros e, quando acordava no dia seguinte, percebia que os banners da locadora ao lado de casa estavam todos furados. Sem contar os carros roubados, que eram abandonados no fim da rua ao lado, em frente ao portão de entrada de um condomínio. Mesmo assim, a educação que meus pais me deram fez com que eu me tornasse o homem que sou. Amigo, filho, marido e mais do que isso: um bom pai de família. A educação que meus pais me deram foi de muita orientação e conversa. Claro, às vezes minha mãe fazia necessário o uso de alguns artifícios, como beliscões, alguns belos tapas ou chutes de leve (e eu realmente agradeço por isso). Com a educação que meus pais me deram eu aprendi que, mesmo se uma pessoa é boa com você, mas desrespeita o pai e a mãe, ela não é boa coisa. E ao longo da vida você constata que é isso mesmo. Com meus pais aprendi que drogas e bebidas não resolvem problemas, muito pelo contrário. Nunca fui aviãozinho (leva e traz) de ninguém quando criança, nem depois. Nunca roubei, nem matei, muito menos usei ou experimentei drogas ilícitas. E sim, tive uma ótima infância/adolescência e sou um adulto realmente feliz. Seguir a educação que meus pais me deram fez de mim um homem incapaz de protestar por uma pessoa morta pela polícia por ter cometido assaltos, tráfico ou assassinatos. E isso independe se essa pessoa for meu pai, minha mãe, meu irmão ou meu próprio filho. Se você fez coisa errada, a escolha foi sua. E aprendi com a minha mãe que se eu fizesse algo de errado, deveria arcar com minhas consequências. Hoje eu ligo o rádio ou a TV, abro o jornal ou um link na internet e as notícias me mostram que, infelizmente, não há pais como os meus em todo lugar. O que vejo são pessoas protegendo suas crias mesmo que elas façam coisas absurdamente erradas. Passam por cima de leis não apenas constitucionais, mas também morais, sem qualquer escrúpulo ou bom senso. Àqueles que tiveram uma educação igual a que meus pais me deram, ou mesmo àqueles que não tiveram, mas que têm um caráter exemplar independente de sua origem, meus sinceros parabéns. Somos, de fato, pessoas melhores e podemos transferir isso às próximas gerações. E àqueles que protegem o erro e engrandecem as más atitudes, minhas condolências. Nota do Editor: Luciano Testa é jornalista e CEO do portal Comunica Vagas.
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