| Alfred Eisenstaedt |  | | | EUA, New York, Times Square, em 14/08/1945, fotografada por Alfred Eisenstaedt. |
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Foto célebre de casal se beijando em Times Square em 14/08/1945, quando foi oficializada a rendição japonesa, que marcou o final da Segunda Guerra Mundial. Ele, um marinheiro. Ela, uma enfermeira. Não se conheciam. Consta que, após o beijo, cada um seguiu seu rumo e nunca mais se viram. - Fotógrafo: Alfred Eisenstaedt – Você é o neto do marinheiro? – Sim. E você deve ser a neta da enfermeira, certo? Vamos entrar. Sente-se. – Como é que você me descobriu? – Isso não vem ao caso. O que eu posso te dizer é que foram anos de investigações, pistas falsas, tempo perdido e até detetives envolvidos. – Nossa... – Indo direto ao que interessa: a foto dos nossos avós corre mundo afora em milhares de sites, jornais, revistas e o diabo a quatro. E olha que lá se vão quase 70 anos do clique histórico. – Sim, mas e daí? – E daí que em praticamente todas as enquetes mundiais sobre as fotos mais célebres de todos os tempos o registro dos nossos avós está sempre lá, encabeçando as listas. O retrato é tão famoso e reproduzido quanto o Chê de boina preta e o Einstein mostrando a língua. Percebe agora aonde quero chegar? – O que eu sei é que vovó falava raramente sobre isso. Quando a foto começou a se espalhar, ela se reconheceu mas adotou uma postura discreta sobre o assunto. – Vovô também. Mesmo porque já era casado na época, e a sorte dele é que os dois rostos, pela posição, não são facilmente reconhecíveis. – Quando é que eles iam imaginar que a foto deles ia ganhar essa projeção toda? O tal de Alfred, o fotógrafo, eu não sei se ganhou dinheiro com isso. Mas com certeza nossos avós não levaram nenhum tostão. Vovó morreu devendo, coitadinha. – Pois é este exatamente o ponto. Proponho que a gente entre com uma ação judicial conjunta, pra que possamos cobrar os direitos de uso de imagem daqui pra frente e requerer todos os atrasados por utilização indevida, ou seja, sem autorização dos fotografados. Os nossos avós, no caso. Em 2015, o final da Segunda Guerra completa sete décadas, e a foto será reproduzida à exaustão. Se tivermos os direitos sobre ela, podemos ficar ricos. E torrar o dinheiro juntos, se você quiser... – Sei. Você está se saindo mais afoito que seu vovozinho marinheiro. – Vovô tinha muito bom gosto e não beijaria qualquer baranga que passasse à sua frente. Sua avó devia ser um pedaço de mau caminho. Aliás, beleza parece ser de família. Você é linda, sabia? Que tal um revival? Netinho e netinha, repetindo a façanha 70 anos depois... – Gosto dos ataques sem rodeios. Vem e me tasca logo um de língua. O morador do apartamento vizinho aumenta o volume do rádio: “Rússia dispara míssil sobre território ucraniano e provoca reação imediata dos Estados Unidos. Especialistas em conflitos bélicos afirmam que pode ter início hoje a terceira guerra mundial.” (*) Esta é uma peça de ficção.
Nota do Editor: Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário em Campinas (SP), beatlemaníaco empedernido e adora livros e filmes que tratem sobre viagens no tempo. É colaborador do jornal O Municipio, de São João da Boa Vista, e tem coluna em diversas revistas eletrônicas.
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