De todas as coisas que só àqueles que têm um amor é permitido desfrutar, uma das que mais me agrada é encontrar a minha namorada quando ela sai do trabalho. Por algum motivo, parece-me que o simples fato de ir esperá-la no prédio em que trabalha é um sinal inequívoco de que somos um casal – e essa ideia (ser um casal!) é muito do meu agrado. Gosto de chegar bem antes do horário marcado apenas para aproveitar melhor a expectativa da sua aparição. Eu nunca me canso disso: ver uma mulher bonita passando pela catraca, caminhando até a saída e vindo na minha direção – e saber que aquela mulher é a minha namorada e que isso me dá certos privilégios, como enchê-la de carícias e trocar impressões sobre os acontecimentos do dia.

Enquanto isso não acontece, enquanto ela está presa lá em cima, a serviço de alguém que não está interessado em sua vida pessoal, eu costumo sentar em algum banco e observar o movimento das pessoas que entram e saem do prédio. Mas todas tão apressadas, tão distraídas e tão indiferentes como só seria possível mesmo àquelas que não tem a felicidade de ter alguém esperando por elas à porta do trabalho. Às vezes vou até o café na entrada do prédio e acontece lá alguma coisa interessante, uma coisa que me faz pensar “essa eu preciso contar para ela”, só que eu olho para o relógio e ainda não deu o seu horário.

E tem aqueles dias que ela me liga um pouco antes e diz que vai se atrasar, porque o chefe pediu para fazer alguma coisa quase na hora de ir embora – e ela diz isso com irritação, então eu sei que não posso também eu ficar irritado e digo para ela relaxar, que vou dar uma volta e dali a pouco a gente se vê.

Até que ela desce. Não me encontra no lugar habitual e começa a olhar para os lados à minha procura. Não sabe que de onde estou eu já a vejo. Sorrio da sua confusão. Mas ela sorri muito mais quando enfim me descobre. E aquela mulher tão bonita vem então caminhando na minha direção... E pensar que é a minha namorada!