"Antes só do que bem acompanhado" - Barão de Itararé
Não seria despropositado fazer uma associação entre o desempenho político oficial processado no Brasil e em Cuba para se descobrir, sem muito esforço, de onde vem o atual "modelo" de governo imposto ao País pelo chamado "núcleo duro do poder" petista. De fato, hoje, bem examinada a questão, são idênticas as formulações que, tanto na Cuba castro-comunista quanto no Brasil populista de Lula da Silva, delineiam os esquemas e a hierarquia de mando, com a conseqüente definição de papéis e ações de governos cujos objetivos fundamentais são, a despeito de eventuais obstáculos, a continuidade e a ampliação do poder totalitário "soi-disant" socialista (ou socializante). No caso de Cuba, embora boa parte da opinião pública mundial esteja inclinada a pensar que a ditadura castrista cairá com a morte do seu provecto patrono, o dado real é que a liderança do sistema totalitário se preparou para permanecer incólume no poder da ilha-cárcere. E a julgar pela observação do dia a dia do regime, tem-se como certo no futuro comando do "território livre da América" a presença das mesmíssimas figuras que ora tomam conta da infeliz nação, a saber: o "compañero" Raul Castro, irmão de Fidel e chefe das Forças Armadas; Carlos Lage Dávila, o vice-presidente do Conselho de Ministros; Ricardo Alárcon, o presidente do parlamento cubano; e Felipe (Ramon) Pérez Roque, o ministro das Relações Exteriores, tido como "liderança arrojada, agressiva e ambiciosa". (Pode-se ainda acrescentar na lista de futuros beneficiários da herança ditatorial, as figuras de Carlos Diaz, o infatigável secretário particular de Fidel, tido como a "memória" do tirano, e a provável ascensão do líder estudantil Hasse Pérez, escolado na cartilha das eternas promessas castristas de um luminoso porvir para o povo cubano - promessas, de resto, tal como no Brasil, nunca cumpridas ou sempre proteladas). No rondó da "sucessão" cubana, também não se discute mais a predominância inicial da figura de Raul Castro, vistos os laços de sangue e sua fé no poder das armas. Tampouco a presença do vice-presidente Carlos Lage, o homem que toma conta com mão de ferro dos permanentes racionamentos da ilha e, menos ainda, a de Ricardo Alárcon, o presidente do Congresso cubano, que cuida com zelo perfunctório da encenada "democracia participativa" do regime (mantida com a implacável repressão da DGI), e de Felipe Pérez Roque, o ministro das Relações Exteriores, ativo especialista na arte de fazer dos Estados Unidos o estratégico bode expiatório pelos contínuos fracassos do castro-comunismo. No Brasil, o desempenho do governo hegemônico do PT não se processa de forma diferente: amparado no trabalho manhoso e aparentemente conflitante da troika "socialista" (composta pelo "cubano-brasileiro" Zé Dirceu, o chefe da Casa Civil; Antônio Palloci, o poderoso ex-trotskista do ministério da Fazenda; Luiz Gushiken, o "oriental" secretário das Comunicações com poderes ministeriais; e por último, mas não menos importante, o ex-guerrilheiro José Genoíno, presidente do Partido dos Trabalhadores), o companheiro Lula navega na crista da onda, cumprindo extensa agenda de viagens (são 450 dias de viagens em 770 dias de governo) e discursos ostensivamente falaciosos, ora prometendo mundos e fundos, ora acusando o neoliberalismo como responsável pela indigência brasileira e dos países em desenvolvimento. Lula, como Fidel, não trabalha ou sequer despacha com os subordinados, pois seu papel preconcebido dentro do esquema de poder consiste em participar de solenidades, almoços e jantares, aqui e no exterior, onde desfila a imagem algo burlesca do "operário do terceiro mundo" pouco alfabetizado, mas intrépido, que luta contra a fome e as injustiças sociais em escala mundial - cabendo a Fidel, o comandante-em-chefe da revolução cubana e matriz do modelo, por sua vez, no diapasão por todos reconhecido, agitar-se aos olhos do planeta como o símbolo espetacular (e encanecido) da luta da pequena ilha contra o gigante imperialista (EUA), que vive da exploração impiedosa das massas espoliadas. Lá, na indigitada Cuba, a troika privilegiada segura o poder pela força da repressão brutal, desencadeadora de fuzilamentos e prisões em série - o que faz da ilha-prisão um monumento vivo da violência contra os direitos humanos. De fato, o castro-comunismo, com se sabe, não dá tréguas aos que lutam pela liberdade de expressão e a livre manifestação do pensamento, à margem o fato de que há anos mantém estagnados os índices de crescimento econômico e dos padrões de qualidade de vida da população. No Brasil, por enquanto, em que pese a fragilidade do processo democrático, ainda restam as possibilidades do protesto e da denúncia. Mas o populismo "hegemônico" do PT no Poder também não dá tréguas e avança empenhado na estratégica tarefa de aparelhar o Estado com o ingresso de milhares e milhares de militantes (são mais de 150 mil filiados já assimilados dentro da máquina pública, terceirizados ou não, desde 2003), ao tempo em que, com projetos ardilosos que ferem as liberdades constitucionais, procura estabelecer um rígido sistema de controle sobre a sociedade e ainda, o que é devastador, tomar das classes produtoras e dos trabalhadores - via elevadas taxações e aumentos de tributos - o que foi ganho com o suor do rosto de cada um. Diante de tudo, no Brasil como em Cuba a pergunta que se faz é a seguinte: sobreviveremos? Nota do Editor: Ipojuca Pontes é cineasta, jornalista, escritor e ex-Secretário Nacional da Cultura.
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