O projeto do trem-bala Campinas-Rio de Janeiro, que serviu de combustível para a campanha eleitoral de presidente e governador, em 2010, hoje está obsoleto e, se quiser implantá-lo, o governo tem de realizar novos estudos. A advertência do Tribunal de Contas da União demonstra a falta de interesse do Brasil em relação à ferrovia. Nossos governos que, por pressões políticas, ideológicas e trabalhistas encamparam as ferrovias construídas pela iniciativa privada no começo do século passado, exploraram-nas até a exaustão, não deram a manutenção adequada e as abandonaram. Quando falam da construção da moderna ferrovia, só o fazem em campanha eleitoral. Quando eram privadas e até depois da estatização, as ferrovias brasileiras cumpriram a tarefa de desbravar o sertão. Eram empregadas no transporte das safras colhidas nas novas fronteiras agrícolas e também levavam passageiros, pois eram o único meio de transporte. A abertura das rodovias trouxe o ônibus que, gradativamente, absorveu o passageiro, pois fazia o trajeto em tempo menor. Nessa época, enquanto floresciam as empresas rodoviárias, as ferrovias pereciam com a falta de investimento e atualização tecnológica e assim foram até a exaustão, consumada nos anos 80 e 90. O vasto patrimônio foi entregue a operadoras que o mantiveram abandonado. Hoje tudo é sucata, diariamente predada e canibalizada por ladrões de cobre, ferro e outros materiais. As linhas, inúteis, são estorvo nas cidades que ajudaram a fundar e desenvolver. Melhor do que investir no trem-bala, é o governo dar uma finalidade efetiva à malha ferroviária já existente. Seria inviável trazer de volta o velho e romântico trem de passageiros, que é lento e o preço das passagens não cobre os cursos de operação. Mas as linhas estão em condições de, com manutenção, abrigar os trens cargueiros e, com eles, retirar milhares de grandes caminhões que hoje atravancam trânsito e desgastam o pavimento de nossas rodovias. Também não se deve esquecer da hidrovia. Só no dia em que tivermos hidrovia, ferrovia e rodovia funcionando de forma integrada, garantindo o escoamento das safras e dos manufaturados, é que deveríamos falar em modernidades como trem-bala ou de alta velocidade. É mais racional fazer funcionar o que já existe para, só depois disso, pensar nas obras que têm de partir da estaca zero... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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