Muro alto, câmara, cerca elétrica, portão de ferro, janela gradeada, porta com tranca automática. Toda essa parafernália para nos proteger do nosso irmão o bicho homem. E pensar que nos tempos míticos da Idade do Ouro, consta que as portas ainda não haviam sido inventadas. O homem delas não sentia falta. Não precisava proteger-se dos céus, que eram sempre clementes, nem de bichos, aos quais ainda não haviam ensinado a crueldade. Nem dos outros homens seus irmãos, que não mentiam, não roubavam, não matavam (quem leu a tragédia grega Édipo Rei, de Sófocles sabe que assim era).

Mas, se dentro das nossas fortalezas, fisicamente estamos protegidos, juntos com os nossos bens materiais, o que fazer, então, para nos proteger daqueles para os quais abrimos as nossas portas e se chegam até nós e nos roubam os nossos sonhos, as nossas esperanças, os nossos desejos, o nosso coração, o nosso amor, a nossa tranquilidade? Clamar aos céus...? Já não são tão clementes... Escrever versos...? Todos os versos já foram escritos. Não sei, não sei o que fazer... Apelar pro Chico? Chama o ladrão! Chama o ladrão!