Apenas um em cada quatro jovens de 16 e 17 anos – o equivalente a 26% da população nesta faixa etária – se inscreveu para votar nas próximas eleições. Nas eleições presidenciais de 2002, 2006 e 2010, o percentual variou entre 36 e 37% e chegou a 43% nas municipais de 2008 e 2012. Estudiosos procuram as causas desse desinteresse e concluem ser resultado do desencanto decorrente das manifestações ocorridas a partir do ano passado. Mas a causa não deve ser tributada exclusivamente à frustração e falta de solução aos problemas abordados nos atos públicos. Podem, sim, estar ligadas ao quadro de descontentamento que levou a população a sair às ruas em protesto. Já faz um bom tempo que, quando vemos os governantes e os políticos falarem da situação nacional, temos a impressão de que falam de outro país. As falas – otimista do governo e catastrófica da oposição – não condizem com aquilo que sentimos no Brasil do dia-a-dia. Não é difícil concluir que tanto uns quanto outros estão divorciados da realidade e produzem suas manifestações apoiadas em técnicas de puro marketing eleitoral. O resultado não poderia ser outro: descrédito. O primeiro mês da campanha eleitoral, deflagrada no dia 5 de julho, demonstra que em vez de propostas, os candidatos de todos os níveis priorizam falar mal de seus adversários. Perdem o precioso tempo em que deveriam estar convencendo o eleitorado sobre seus propósitos de trabalho na eventualidade de serem eleitos. O clima belicoso, em vez de atrair o povo para a causa eleitoral, o afugenta e potencializa a repulsa à desgastada figura do político. Precisamos, com toda urgência, mudar o eixo das discussões. Os malfeitos – não importa quem seja o malfeitor – têm de ser todos apurados pela polícia e apenados pela justiça, sem qualquer interferência, corporativismo ou tráfico de influência. Os candidatos têm de encontrar meios de chegar ao eleitor e convencê-lo de seus bons propósitos. Não é falando mal do adversário que se vai alcançar esse objetivo. É fundamental que o eleitor passe a ver o voto como a sua ferramenta de condução do país e da sociedade, não como uma ineficaz obrigação legal. A retração do jovem no alistamento eleitoral é sintomática e mau prenúncio, pois é o jovem de hoje que comporá do quadro de eleitores das próximas cinco décadas, já que o voto é obrigatório até os 70 anos de idade... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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