O Brasil entrou, para o bem e para o mal, na onda do politicamente correto. Uma das maiores vítimas é o humor. Não são poucos os humoristas que reclamam da perseguição de ativistas irados com suas piadas politicamente incorretas. Também na publicidade, o CONAR (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) vem registrando aumento significativo das queixas de consumidores que sentiram-se ofendidos ou “não entenderam” a piada. A Folha de São Paulo do último domingo, 10 de agosto, traz reportagem que enfoca os tradicionais cursinhos pré-vestibulares. Neles, os professores são famosos por utilizarem-se de vários recursos para manter da plateia a atenção e aumentar a retenção dos conteúdos. Imitações, piadas e brincadeiras estão entre as técnicas mais comuns. Segundo a reportagem, muitos alunos sentem-se ofendidos e reclamam com os professores ou com coordenadores. Por sua vez, os cursinhos recomendam cautela aos seus docentes que começam a se sentir pouco à vontade para se utilizar do humor em sala de aula. As críticas enfocam apenas em uma maneira de se fazer rir, no caso, é o humor de Superioridade. Trata-se do tipo de piada em que para se fazer superior, o protagonista diminui seu opositor ou o objeto da piada. A maioria das piadas preconceituosas se apoiam nesse tipo de humor. Assim portugueses, negros, loiras, nordestinos, gays e demais grupos sociais passam a ser tema de situações mais ou menos engraçadas - para aqueles que não pertencem ao grupo objeto da “zoação”. Entretanto, é preocupante o fato de que muitos confundam humor com preconceito. Há três outros grandes modos de se fazer rir que não se apoiam na ridicularização do próximo, são eles: a teoria do Alívio, a teoria da Incongruência e a teoria do Humor Conceitual. Cada um desses caminhos pode ser fonte de infinitas piadas sem maltratar qualquer pessoa ou grupo social. É importante que cidadãos e gestores conheçam o humor em toda a sua plenitude para que possamos continuar a usar esse recurso tão agradável, e brasileiro, nas relações cotidianas para que não sejamos levados a acreditar que o comportamento respeitoso exija o fim do humor. Humor é fundamental para uma vida leve e cheia de prazer. Não devemos abdicar dele em nome do respeito à diversidade. Abramos os olhos, sim, à diversidade de formas de se fazer humor. Nota do Editor: Celso Figueiredo é professor de publicidade e propaganda da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui graduação em Comunicação Social pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (1993), mestrado em Comunicação e Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2003) e doutorado em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2008).
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