Passado o impacto da morte de Eduardo Campos – a tão esperada terceira via no processo político nacional que nas últimas duas décadas se alterna entre PSDB e PT – o país vive agora as incertezas do dia seguinte. As equipes especializadas procuram identificar as causas do acidente, a boataria é inevitável e todos nós, brasileiros, temos nossas vidas e o país para cuidar, cada qual na sua atribuição. Não é a primeira vez que vivemos a desconfortável sensação do dia seguinte. Ela já ocorreu pelo menos três vezes em nível nacional: em 1919, quando Rodrigues Alves, presidente eleito, foi morto pela gripe espanhola, não tendo podido tomar posse no seu segundo mandato; no suicídio de Getúlio Vargas, em 1954; e na morte de Tancredo Neves, em 1985. Isso sem falar em lideranças regionais – governadores, parlamentares e personalidades – desaparecidas prematuramente, quando ainda poderiam oferecer muito à sociedade. Decidir quem sucederá Campos é tarefa do seu partido. Mas acompanhar o desenrolar dos acontecimentos e o comportamento geral dos envolvidos, inclusive dos outros candidatos, é interesse do eleitor. Na verdade, mesmo que não tivesse ocorrido a morte do candidato, o eleitor deveria portar-se atento ao desenvolvimento do processo político. Saber quem são os candidatos para poder votar de acordo com os seus próprios interesses. O voto, não podemos esquecer, é a única oportunidade que o cidadão comum tem para interferir nos rumos do país. Em 5 de outubro, vamos escolher presidente da República, governadores estaduais, senadores e deputados (federais e estaduais). Se conhecermos bem os candidatos e suas propostas de trabalho, nosso voto será melhor e mais condizente com aquilo que pretendemos da sociedade. Para saber dos candidatos à reeleição e daqueles que já ocuparam outros cargos eletivos, basta ver se, depois de eleitos e empossados, cumpriram o prometido nas eleições passadas. O discurso que se tem feito no Brasil para definir democracia é incorreto. Dá-se a idéia de que democracia é um regime em que tudo pode. Mas, em verdade, o regime democrático não é a permissividade que se procura difundir. Constitui-se numa estrutura onde o poder é exercido por pessoas eleitas pelo povo para atuar em seu nome. Mas, para poder votar bem, o eleitor precisa conhecer o processo eleitoral e informar-se sobre os candidatos e seus programas de atuação para o caso de serem eleitos. Quanto a Eduardo Campos, a melhor homenagem que a ele se poderá fazer, é seguir o seu conselho, dado na última entrevista: “não vamos desistir do Brasil”... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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