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Opinião
20/08/2014 - 17h14
Um Papa, dois países, uma fé
Lidice Meyer Pinto Ribeiro
 

Papa Francisco empreende mais uma atitude diferenciadora: dia 14 de agosto pousou na Coréia do Sul após 25 anos da visita de João Paulo II ao país. Os motivos principais divulgados são participar da Jornada Asiática da Juventude e beatificar 124 mártires católicos da perseguição nos séculos XVIII e XIX.

A maior tarefa de Francisco no entanto é abordar e propor a reconciliação entre a Coréia do Norte e a Coréia do Sul. Hoje, a situação nas duas divisões da Coréia é discrepante em diversas questões, mas há um elo que ainda as une: o cristianismo.

Esta visita do Papa abre os olhos do mundo para uma realidade que muitos desconhecem vivida pelos cristãos nesta parte da Ásia. A chegada do cristianismo à Coréia data do final do séc XVII e curiosamente se deve a um conflito: a guerra entre o Japão e a China que nesta época dominava a região que incluía a Coréia. Prisioneiros de guerra feitos pelos japoneses acabam por conhecer e se converter ao cristianismo no Japão. Quando alguns retornam à Coréia, levam consigo a nova religião. O Cristianismo se alastrou rapidamente, e no século XVIII quando os primeiros missionários chegaram ao país, já existiam igrejas organizadas. Neste período ocorrem perseguições, onde os 124 cristãos que serão beatificados foram mortos.

Apesar disso, a igreja se manteve firme, chegando a quase meio milhão de cristãos (13 % da população da época). Ao final da 2ª Guerra, com a formação da Coréia do Norte, ligada à União Soviética, a perseguição aumentou, forçando muitos destes cristãos a migrarem para o Sul.

Na Coréia do Sul encontram-se 22 milhões de cristãos divididos entre 10,7% de católicos e 34,5% de protestantes e na Coréia do Norte, apesar da dura perseguição, resistem ainda 400 mil cristãos (2% da população). Enquanto na parte Sul do país o Papa se encontra livremente com centenas de milhares de fiéis, na Coréia do Norte, os cristãos se reúnem secretamente em subterrâneos, com reuniões de no máximo 3 cristãos com duração de cerca de 15 minutos, mantém as Bíblias enterradas nos quintais, e, se descobertos, são presos, torturados e encaminhados a campos de trabalho forçado.

Calcula-se que entre 50 a 70 mil cristãos estejam nesse momento nos campos de concentração, onde trabalham por 18 horas em troca de pouca comida. Dois países divididos, duas formas diferentes de cultuar sob a mesma fé cristã, ao mesmo Deus. Uma igreja que livremente cresce e se expõe, e uma igreja do silêncio, do medo, da resistência. Perante esta realidade tão ímpar, Papa Francisco tem uma missão no mínimo difícil: derrubar os muros intransponíveis que dividem as duas Coréia fazendo com que a sua mensagem de paz e reconciliação possa aquecer os corações dos seus irmãos da igreja do silêncio, dando-lhes animo e coragem para manterem-se fiéis a sua fé.


Nota do Editor: Lidice Meyer Pinto Ribeiro é doutora em Antropologia Social, Docente do Programa de Pós Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).

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