Nossos trens de passageiros desapareceram por completo, agora só vejo vagarosos vagões carregando minério de ferro pelos trilhos da antiga Central do Brasil. Antes, passavam por ali o trem que saía de S.Paulo às oito da manhã e chegava ao Rio de Janeiro lá pelas seis da tarde e outro que fazia o trajeto inverso. À noite circulava o noturno, chamado Trem de Prata, que tinha cabines para quem quisesse dormir e um elegante restaurante. Nos intervalos havia também comboios carregando bois, vacas e cavalos. A casa de vovô ficava perto da estação em Caçapava e me lembro do intenso movimento de pessoas que ali se aglomeravam, tanto para embarcar como a esperar parentes e amigos que talvez viessem de longe. Às vezes aguardavam algum figurão, gente importante em visita à cidade. Então, havia até banda de música para animar a recepção, assim como a presença do prefeito, vereadores e muitos curiosos. A cada chegada ou partida de um trem o piso da casa tremia e as conversas eram interrompidas, tamanho o barulho que faziam. Fora o apito, que até me assustava. Mamãe contava que em seu tempo de jovem muitas moças gostavam de ir à estação só para ver o movimento e para lá se dirigiam devidamente embonecadas, talvez para o caso de vislumbrar um belo rapaz chegado da capital. Quiçá futuro namorado... Ela contava também que certa vez um guapo fazendeiro esteve na cidade para comprar gado e se enamorou de uma de suas irmãs, muito bonita. Na hora da partida, titia, elegantíssima, foi com as amigas até a estação para as despedidas. Chegou bem no momento em que o tal fazendeiro assistia ao embarque do seu gado e uma das vacas, empacada, se recusava a subir no vagão. Sem perceber a presença das moças, o homem não teve dúvidas, tascou uma mordida no rabo da vaca! Naquele mesmo instante o namoro foi para o brejo, só ficou a história para a posteridade.
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