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SEÇÃO
Crônicas
02/09/2014 - 15h04
Do pouco que aprendi de alemão
Henrique Fendrich
 

Perguntaram-me se eu sei falar bayerisch. O bayerisch, vocês sabem (okay, não sabem), é o alemão falado pelos bávaros. E era mais ou menos isso que falavam os antigos moradores da aldeia em que nasci em Santa Catarina. Meu avô não apenas falava como também cantava em bayerisch. Mas foi na geração dele que veio a guerra e depois disso ninguém mais falou alemão como antes. Tudo o que sei sobre o idioma se resume a um mês de aula que tive no tempo da faculdade. E lembro-me mais da professora do que das regras que ela ensinou.

Devia ter pouco mais de 20 anos, e isso era mais do que eu tinha. Havia nascido exatamente na Baviera e fazia intercâmbio no Brasil. Ainda não falava o português. E, como os alunos também não falavam o alemão, pode-se imaginar o nível da comunicação. Recorríamos a línguas universais, como o inglês e a mímica. Ela era daquelas pessoas doces e tímidas que ficam vermelhas ao menor sinal de constrangimento. Isso acontecia sempre que arriscava alguma palavra em português. Tinha vergonha do nosso julgamento – nós, ao contrário, não tínhamos vergonha alguma do julgamento dela e abusávamos do direito de falar mal o alemão.

Era uma pessoa esforçada e aquilo que não aprendemos não foi sua culpa. A cada dia o número de alunos diminuía e ao final éramos apenas quatro. Havia qualquer coisa de comovente no modo como nos ensinava – não sei precisar bem o que era, mas ainda hoje me comove. Quando contei que alguns dos meus ancestrais eram bávaros, ela me animou a aprender o alemão para ir lá conhecer a terra deles. Até hoje não aprendi, até hoje não fui para lá.

Do pouco que aprendi de alemão, lembro de algumas injustiças, como por exemplo o sol ser considerado um substantivo feminino. Ora, nada que é feminino pode ser tão agressivo. E ainda tem o mar, que é substantivo neutro. Neutro, o mar! Mar só pode ser substantivo feminino: a mar. Como eu amei aquela professora, que depois voltou para casa e sumiu-se para sempre.

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